Riso
O porquê das putas rirem será sempre um mistério.
Minha dama, a quem no coração guardo, mesmo pequeno, um canto. Escrevo-te em pequenos versos, pequenos e talvez inúteis, sabedor que sou da distância amarga que nos separa. Digo-lhe, sem rodeios, que ainda trago a imagem fugaz de seu faceiro sorriso. Espero que o tempo esteja sendo benevolente e trazendo boas coisas, para seu manuseio. Estou fugindo do assunto. Às vezes a saudade faz sua ronda, batendo em minhas costas com seu açoite. Assim me lembro que nem tudo passou, nem passará. Espero que esta missiva não se perca, entre tantas que, com certeza, recebes. Leia com vagar. Navego agora mesmo para alhures, sem destino. Atrás do amor que perdi.
Read more...Caminhava em passos lentos, após um cansativo dia de trabalho. Sob o sol inclemente capinara a terra. Sua foice, afiada pacientemente, cortara rente a erva impertinente. A estrada o guia. Cada passo, pesado, o leva para mais perto da recompensa, saciar a fome com um prato simples e matar a sede na água fresca. Faltava pouco quando um carro passou, lançando, sobre seu alquebrado corpo, restos da fétida lama que o sol não secara. Mesmo cansado ainda teve forças para levantar o punho, em indignação. O motorista parou, desceu de seu bólido e em lenta caminhada se aproximou. Sem uma palavra esbofeteou a enrugada face do simplório camponês. Sem um gemido o velho o decapitou. Uma última erva daninha fora cortada.
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Divulgo aqui um novo blog, de autoria da Lella, Diário de Bordo de uma Recém Cadeirante. Prestigiem.
O agudo silvo do apito anunciou a partida. Na plataforma os últimos enfermos são amparados em seu embarque. Estranhamente não há despedidas. Apenas alguns sãos, com suaves sorrisos. Não há choros, lágrimas ou risos. Não há atrasados em louca disparada. O choque e a dor, companheiras das súbitas partidas, estão lá, impávidas, inclementes. O lento iniciar da viagem é ainda desconexo. Não desperta aqueles que dormem. Fecham-se as portas. Encerra-se uma estada, breve, mas jamais passageira.
Uma multidão encaminha-se, inexorável, à estação. Sem aflições, apenas incertezas. Ouço o sino dobrar, marcante, definitivo. Por todos nós.
Uma boa noite lhe desejo, meu caro, ou um bom dia tardio. Sabei-me um embriagado esse que vos escreve. O céu amanheceu cinzento, como o pesado coração que carrego. A fronte retumba como címbalos. Sei lá eu que maldita bebi. Vestido em ricos andrajos, lembro vagamente do cambaleante andejar. Tracei meu rumo pelas estrelas, assim não me perderia entre os becos imundos. Parece-me que hoje já não sou aquele que era. Perdi as estribeiras, o siso, a questão irrespondível. Mas logo, o bafejo da maresia, naquela última esquina na praia de tão alegres lembranças, trouxe-me alento, meu amigo. Aspirei o ar salgado e, agora lúcido, pude vislumbrar a penúria de minha situação. Decidido vou-me, mas sem antes dizer-lhe que o convívio consigo foi um privilégio.
Não haverá mais o singelo florir de Ipês. Nem jamais irão chilrear os sabiás.
Parto, mas volverei.
Já disse antes, nas tardes frias do outono, que ainda nada sei sobre o amor. Sei apenas o que sinto. As batidas arrítmicas que ora falham, ora teimam em pulsar distantes, no livre olhar, de tua sombra delineada. O rasgar da alma, no ouvir etéreo de sua voz, mas o amor mesmo não conheço, não lhe fui apresentado.
Sinto-me um trapezista, triste artista, que no ar se lança, sem rede.
O inverno da minha vida se aproxima.
Não, não quero ir para Pasárgada. Nem quero ser amigo do rei. Quero é ir para o puteiro, onde não quero favores. Não escolherei mulheres. As putas que me amem pelos poucos trocados que trago no bolso. Qualquer uma. As altas, as baixas, gordas ou magras, as falsa pudicas, as devassas. Quero cantar sobre a mesa, minhas canções indecentes. Declamar palavras sujas. Dançar lascivo no meio do salão. Não quero os aplausos. Não os mereço. Apenas me amem.
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Estou de ótimo humor e respondi a um meme, isso merece uma visita. Leiam AQUI.
Não há nada mais insidioso do que a fofoca gratuita. A mesquinhez daqueles que se julgam donos da verdade. Atacando pelas costas, como repugnantes escorpiões. Sim são donos, de um voyerismo escroto, delirante, que só uma mente perturbada poderia produzir. Ergo meu cálice, da doce cachaça. Embebedo-me em minhas letras. Traço meu rumo, justo e repleto de obstáculos. Não preciso de ajuda para ir ao inferno. Sei o caminho sozinho. Mas enquanto pasto nestes campos, esqueçam-me. Sumam daqui víboras. As mordidas de suas bocas putrefatas não me afetam. Já tenho quem me morda. E ela me enlouquece.
Read more...Um assombro, assim defino meu futuro imediato. Cunharei minhas moedas nas calejadas mãos, estendidas em súplica. Sofrerei as dores, físicas e metafísicas, do parto criativo. Pregado, à cruz urbana de minhas ansiedades, perdoarei meus pecados. E amaldiçoarei meus inimigos. Sim, sou vingativo e rancoroso. À moda antiga. Duelo permanente, com minha insana mente. Entoarei canções burlescas, nas mesas dos bares. Erguerei brindes aos que se foram e aos que virão. Amarei minhas mulheres. Ardor e paixão serão minhas sinas. Lavarei os lençóis, manchados com o despejado amor, em sabão em pó. Açoitado, não dobrarei meus joelhos. A cada vívido dia vivido, irei agradecer. E, no fim dos tempos, serei julgado e condenado.
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Hoje, cumprindo sua promessa, o grande mago Heitor Caolho, o maior representante do esoterismo oportunista e presidente perpétuo Hector Hereeye Foundation, faz suas previsões para o ano vindouro. Leiam todas elas AQUI.
Parido, como rejeito nasceu. Em meio ao lixo. Mais um maltrapilho. Sem esperança, enjeitado. E cresceu, sobrevivente. Sua insanidade também. Louco manso, diziam. Lutava pelos restos, sobras de outro mundo que não conhecia, não entendia. Perdia-se em sua amargura. E vivia, um pária, uma sombra pelos cantos. Acordou, certa noite, aos gritos. Uma presença. Se real ou não, jamais saberia. Matou o indesejado, matou-se em seguida. Maldito natimorto indesejado.
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Pessoal, o debate foi intrigante. Polêmico. Vou publicar sobre o assunto mais tarde ou na segunda.
Sou um curioso, que na natureza humana me embrenho. Pretendo ser um explorador, quando sou eu o explorado. Observo os passos e meneios dos que me cercam. Imagino, ingenuamente, o que fazem de suas vidas. Seu dia-a-dia comezinho. Invento diálogos. Imaginárias famílias, tramas e dramas. Teço, incólume, minha teia. Arremedo de armadilha mortal, o terço. Escapam-me certas nuances. Talvez por ter, eu mesmo, uma vida monótona. Viver na janela, atormentado pelo nada, vendo a vida passar.
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Falatório. É o que ouço. O coreto é o perfeito confessionário, construído sobre notas desafinadas. O marcar do bumbo ritma o passo dos passeantes. As senhorinhas em seus trajes negros, afortunado luto, que as livrou do pesado tacão de seus senhores. As moçoilas, excitáveis, ansiosas pelo primeiro beijo e pelo despudorado amassar de corpos nos muros escuros. Os imberbes, estúpidos bovinos, lançando esgares que chamam de sorriso. Fanfarrões precoces. As famílias, alegres em sua perfeita marcha, fúnebre. A tudo isso, observo, calado. A triste rotina, do passear vespertino e preguiçoso, na velha praça, nos domingos modorrentos.
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Para quem não sabe o que é e gostaria de colocar um feed no seu blog, mesmo sendo UOL, clique aqui.
Minha vida anda assim, em espasmos. Quando penso que as coisas vão se encaixar lá vem o destino e muda tudo. Vou me esbarrando em acasos. Na maioria, infortúnios. Não queria ir-me daqui assim. Queria deixar minha marca no mundo, na cidade. A cidade sobrevive. Somos como andarilhos, que vêm e vão, mas ela se perpetua. Será meu jazigo, minha lápide, o epitáfio. Em suas negras ruas escrevemos os atos vivenciados, as dúvidas que nos assaltaram e as perdas engolidas, qual trago de amarga bebida. Quero deixar uma obra que o cortante bafejo, do tempestuoso vento, não apague. Só nossas pegadas.
(texto inspirado no poema "POEMA À CIDADE" de Vieira Calado e publicado originalmente no Blog Coletânea Artesanal, no dia 15/11)
Hoje não irei falar do suave perfume das flores. Ou das nuances surrealistas do pôr-do-sol de um outono qualquer. Vou falar dos espinhos. Da queda das folhas mortas de árvores retorcidas. Quero tecer loas ao intraduzível martírio das criaturas. Uma criatura. Somos desenganados ao nascer. Subtraímo-nos aos pedaços, na contagem regressiva. Vamos, às vezes céleres, às vezes rastejantes, ao encontro da luz no fim do túnel. Mas novamente tergiversei-o. Assunto dolorido esse. A anunciada morte. Mesmo assim ainda repulsa-me a idéia do martírio. Não deveríamos sofrer. Não há dignidade. Nenhuma. Não deveríamos caminhar por uma via sacra para cumprir nosso destino. Prefiro o súbito sumir. Num instante quedar fulminado. Olho, impotente. O caminhar de uma criatura. Um doce ser humano. Observo sua luta insana pela vida. E sei de que nada adianta. Cruel é a esperança. É acreditar. O futuro acabou-se. Finito.
Fim.
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Aos sábados, escreverei um texto inédito no blog Livro Aberto. Prestigiem. Participo também do Coletânea Artesanal. São muitos trabalhos fantásticos. Recomendo a visita.
Leiam o blog Pseudo-Poemas e o que publico no Cantábile. Em ambos estão os textos proibidos pela Bíblia e pelo Vaticano.
E agora no Memórias Póstumas de um Puto Prestimoso.
No dia 11/12 convoco a todos para uma blogagem coletiva sobre o tema. Maiores informações aqui. Divulguem e participem.
Mais uma vez encontro-me aqui. Nesse balcão sujo, enevoado pela fumaça acre e azulada dos incontáveis cigarros que me cercam. Agradeço ao deus, que me serve generosas doses. Abençoados sejam a cerveja, a cachaça e o rabo-de-galo. O ovo colorido. Embriagado, declamo palavras tortas em meio às saudosas lembranças de meus amores direitos. As putas, embevecidas, aplaudem. Chamam-me de poeta. Poeta é o caralho. Sou um louco enternecido. Ouço as estórias das moças. Acredito em todas. Choro por elas. Quero salvá-las de seus infernos. Palavra tola essa. Salvação. Cercam-me ávidas, pelos trocados que brotam de meus bolsos. “Pegue o que é teu antes que alguém o pegue”, ouço. Tenho que salvar a mim. Salvo por minhas próprias ações. Afogo-me no mar alcoólico. Sou um babaca.
Estranhos são os matizes dos ovos coloridos, não?
Escrito pelo Bêbado de Rayol, em um balcão de boteco qualquer. Originalmente publicado no blog Livro Aberto.
Estou me debatendo, e em debate fisiológico com minhas lembranças e inspirações. Em outras épocas ligaria o "foda-se", mas hoje tenho que me render a esse feitor cruel e sanguinário, o tempo. Senhor das mudanças, das arremetidas ferozes e cegas, de lutas cruentas e invencíveis. Tempo, maldito escravocrata, régio e arrogante. Toma-me os poucos fios de meada e transforma-os em pó e cinzas. Debato-me nas movediças areias, nos pantanosos caminhos que escolhi. Estou afundando, orgulhoso. Alguém, por favor, me salve. Eu suplico.
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Aos sábados, estarei escrevendo um texto inédito no blog Livro Aberto. Prestigiem. Participo também do Coletânea Artesanal. São muitos trabalhos fantásticos. Recomendo a visita.
Leiam o blog Pseudo-Poemas. Leiam também o que publico no Cantábile. Em ambos estão os textos proibidos pela Bíblia e pelo Vaticano.
E agora no Memórias Póstumas de um Puto Prestimoso.
Em suas andanças vai encontrando pedras. Desconheço a razão de suas existências. São pedras pequenas, aquelas que teimam em invadir os sapatos. Ou pedras grandes, intransponíveis. Pedras que lhe forçam a seguir outras direções. Outros rumos. Não me importo. Sempre sonhou em ser um bandeirante. Escolho, então, as trilhas que se apresentam, mesmo as fechadas por densas matas Não há mais nada. Nem o nada comum, nem o existencial. Não se atém a filosóficos pensamentos. Tergiversei-o. É um paradoxo. Caminha em direção ao desconhecido e não sonha com um oásis. Confuso. Perco-me na espiral do tempo. Traça metas que não atinge. Esqueço os traços, as palavras, as imagens. São borrões em suas lembranças. Quando muito, um fio de memória se mantém. O fio da meada, talvez. Não sei de onde venho. Não sabe para onde vai. Não pode. Não quero. Vive o hoje. O prato de comida. Sacio a fome. Toma em mãos a moringa, que sacia a sede. Uma cama. Isso me basta. Vai andando, maltrapilho. Um pobre mendigo. Caminho no insano esquecimento. Esqueçam-no.
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Fui indicado pela Van, do blog Van Filosofia, com mais um escrito para o "Caneta de Ouro". Ainda estou finalizando a escolha dos meus indicados. Não sabem o trabalho que está dando.
Aos sábados, estarei escrevendo um texto inédito no blog Livro Aberto. Prestigiem. Participo também do Coletânea Artesanal. São muitos trabalhos fantásticos. Recomendo a visita.
Leiam o blog Pseudo-Poemas. Leiam também o que publico no Cantábile. Em ambos estão os textos proibidos pela Bíblia e pelo Vaticano.
E agora no Memórias Póstumas de um Puto Prestimoso.
Somos eternos esperançosos. Esperamos de tudo um pouco, transformar sonhos em realidade, a paixão reprimida em conquista gloriosa, dos estranhos um gesto de compreensão. Trilhamos, inconscientes e claudicantes, o barro primário. Refazemos os caminhos confusos que nos trouxeram até aqui. Tentamos ver através das cinzas de nossas lembranças. Somos cobertos por elas. Obliteram-nos a visão, o livre arbítrio, o olhar direto ao rumo traçado. Rumo. Qual barco, desgovernado, vogamos ao sabor do mar. Atravessando as ondas inclementes, que nos acertam sem dó nem piedade. Não adianta. A esperança é vã. É pífia. É um cais maldito, onde jamais aportamos. Esperamos ansiosos pela salvação. Tristes marinheiros. Todos nós.
Originalmente publicado no Coletânea Artesanal.
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Aos sábados, estarei escrevendo um texto inédito no blog Livro Aberto. Prestigiem. Participo também do Coletânea Artesanal. São muitos trabalhos fantásticos. Recomendo a visita.
Leiam o blog Pseudo-Poemas. Leiam também o que publico no Cantábile. Em ambos estão os textos proibidos pela Bíblia e pelo Vaticano.
E agora no Memórias Póstumas de um Puto Prestimoso.
Cidade miserável essa, 3 horas para chegar em casa, bosta de subúrbio. E isso de acordar às 5 da manhã? Não é para uma cristã como eu. Bem feito, sua burra. Bem que minha mãe dizia que era para ter casado com o Ernani, o que virou supervisor do supermercado. Esse zinho aqui é um cretino, um merda mesmo. Sem ambição. Um coitado. Fica o dia todo largado por aí, deve estar no bar agora, o desgraçado, bebendo com aqueles amigos chinfrins. Ainda bem que não tem futebol. Mas a Inês é morta, como dizia meu pai. O que é pior é o ônibus. Ficar espremida em pé é coisa de pobre. Aquela esfregação é coisa do demônio. E aquele cheiro de bodum, meu Deus. Ah se soubessem que gosto mesmo é de um homem perfumado, e ainda quando é bem servido. Que nem o namorado dessa vaca do lado. Bem apanhado, educado, respeitador. E a putinha ainda por cima esnoba com ele. Não sei o que ela viu naquele outro, o que tem cara de tuberculoso. Isso ainda vai acabar mal. Eu que não vou fazer fofoca. Se bem que se o bonitão largasse dela eu podia me aproveitar. Já vi como ele olha pra mim, guloso. Guloso e safado, o homem. Ai meu Deus, tenho que ir a igreja. Já tem uma semana que não me confesso. E essa quentura aqui no meio das minhas pernas não é normal. O inútil não preparou nada pra janta. De novo. Vou me virar com o que tem. Estou tão cansada. Bosta de vidinha ridícula. Bosta, bosta, mil vezes bosta. E a vaca da vizinha no bem-bom. Deve estar trepando por aí, a meretriz. Olha ela aí chegando toda faceira, que inveja. Ai meu Deus, um tiro.
Deu cabo dela o corno. Bem feito, rameira.
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