quinta-feira, 30 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
segunda-feira, 20 de maio de 2013
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Agostinho da Silva, profeta do Império.
António Quadros dedica o segundo volume de Portugal, Razão e Mistério “ao Agostinho da Silva, profeta do Império”. Lendo o livro, tão centrado no culto do Espírito Santo, verifica-se, porém, que o subsídio ideológico e a oferta de informes redundam sáfaros na paraclética obra agostiniana. Assaz, aliás. Um índice seguro permite atestá-lo: em mais de quinhentas notas, não chegarão à simples dezena as respeitantes aos livros de Agostinho. Mesmo entre estas, há ainda duas plenamente passíveis de inscrição a débito. Remetem para a dura, duríssima crítica que Quadros ali faz ao confrade, a propósito da posição que este, na Reflexão à Margem da Literatura Portuguesa, sustenta no caso do Infante Santo, e contra o Infante D. Henrique. António Quadros viu o óbvio: a ausência de perspectiva cavaleiresca, consumida pelo franciscanismo abrasivo e platonizante de Agostinho. Quando, então, e a propósito, afirma, resoluto, o seu aristotelismo, António Quadros dá bem discreto, mas orgulhoso testemunho do magistério que recebeu de Álvaro Ribeiro, e aqui faz toda a diferença reconhecer ou, ao invés, renegar – como Agostinho, no final da vida, fez perante Antónia de Sousa – a linhagem magistral que vem de Leonardo. Não por acaso, neste mesmo segundo volume de Portugal, Razão e Mistério o autor distingue judiciosamente os modos de recepção contemporânea da grande herança paraclética que, como veio nervoso, perpassa a tradição sófica portuguesa, a seu mestre Álvaro Ribeiro atribuindo a via “filosófica e pedagógica” e a Agostinho a via de uma “metanóia mítica e mística”. Não esclarece António Quadros se Agostinho foi somente o conversor ou também um convertido, mas é bem possível que tenha sido as duas coisas, se atentarmos na inflexão verificada com a Reflexão, e prolongada em Um Fernando Pessoa, como aproximação inteligente ao movimento da filosofia portuguesa.
Não irei aqui escalpelizar as razões de António Quadros. São várias, são sólidas, e estão admiravelmente expendidas de páginas 221 a 223 do livro em apreço, para as quais remeto o meu leitor. Bastará, no lance, assinalar o desenho de uma tendência para a inércia paralisante que o autor de O Movimento do Homem pôde então assinar à coluna meã do pensamento agostiniano, e sobretudo encarecer a exacção oracular com que lhe aponta o perigo de uma “dissolução nirvânica”. Bem sabia António Quadros que nada na vida se faz sem sacrifício, e nisso mostra muito bem haver estudado no Cortesão de O Humanismo Universalista dos Portugueses o que Agostinho ali terá esquecido, quando não ignorado: a essencial complementaridade do franciscanismo e do espírito de cavalaria na formação da Pátria.
Lendo Orlando Vitorino no artigo que, sob o pseudónimo de Ernesto Palma, intitulou de “Agostinho da Silva, Filho Pródigo”, seremos levados a reprovar, franzindo o sobrolho, um ou outro aspecto do tom excessivo, por pouco sereno, dado entre o chiste e a condescendência, em que ali discorre: a anciania e a bravura de Agostinho decerto mereciam mais. Mas não podemos deixar de com ele concordar quando verbera a entronização do Menino por Agostinho exaltada, se nesta virmos o risco sério de uma queda na figuração simbólica do intelecto passivo, que a criança representa. Daí vêm, como razoadamente asserta Orlando, “a inocência, o não-saber, a vida fácil, em suma”, numa contínua impressão de confirmada debilidade, onde todo o esforço heróico parece, ou aparece, ab origine, sonegado.
É bem provável que o cripto-judaísmo se haja insinuado na Festa do Império, trocando o pobre primitivo pela criança adventícia como cabeça a coroar. Assim se veicularia simbólica alusão a Metraton, o pequeno Jeová, sempre representado, segundo ensina Benzimra, sob os traços da adolescência, dest’arte se significando um deus ainda na infância. A hipótese só fará sorrir quem desconheça as obras de um René Guénon ou de um António Telmo, onde se ensinam as correspondências evidentemente verificáveis entre os intermediários celestes da mística hebraica (os gémeos Metraton e Shekinah) e o Santo Espírito cultuado pelos cristãos. Sucede, porém, que uma coisa é o Deus na infância e outra, bem diferente, aliás nos antípodas, o endeusamento da criança, dessa criança que se pretende deixar à solta, acobertada sob o mito fácil, e falso, do bom selvagem.
Nestes, como noutros pontos, tudo se joga e decide, e Orlando está ainda na razão quando nos lembra o que Álvaro Ribeiro a Agostinho, debalde, terá demonstrado: “que o V Império, a ser coisa de Portugueses e do Espírito e se algum sentido tem, só pode ser a “filosofia portuguesa”.
O mesmo Álvaro que não enjeitava a alusão, pela enxertia no movimento. Um dia, à queima-roupa, sem fio de conversa, lembrou a Luís Paixão ter em grande apreço a doutrina dos anjos caídos de Pascoal Martins. Ao fazê-lo, dava também ao jovem discípulo, necessariamente, a indicação séria para que não perdesse de vista a infante crueldade de quem ainda tão perto está da origem. A infante crueldade. O infante é o que não fala, mas a linhagem de pensamento que transcorre de Álvaro para Telmo preza sobretudo as letras e as palavras com que Deus criou o mundo. A língua liga, lembra algures António Telmo, e nisso bem terá andado Agostinho da Silva, ao preconizar e prefigurar a futura Comunidade Luso-Afro-Brasileira. Por Renato Epifânio, e pelo Movimento Internacional Lusófono que, com o seu fôlego de maratonista, se tem vindo a erguer, passa por certo o que de mais validamente perene e original Agostinho da Silva tem ainda para nos oferecer.
Pedro Martins
Lisboa Uma Cidade em Tempo de Guerra
Lisboa Uma Cidade em Tempo de Guerra
Lisboa. Uma Cidade em Tempo de Guerra é um livro de histórias verídicas sobre um período ímpar da história em Lisboa, a Segunda Guerra Mundial. Ao longo da obra, a autora aborda temas como os refugiados, as alterações que a presença destes provocou na capital lisboeta, as guerras da propaganda e as teias tecidas pela espionagem internacional.
A historiadora Margarida de Magalhães Ramalho, que há mais de uma década trabalha documentação sobre a temática dos refugiados na Segunda Guerra Mundial, escreveu e fez a recolha e a seleção iconográfica para esta edição única no catálogo da INCM. Esta obra é disponibilizada em três versões em simultâneo — português, inglês e espanhol — e compõe-se de um livro de grande formato, um guia com percursos pelas zonas por onde os refugiados se distribuíram e um mapa que os assinala, reproduzindo um mapa da época.
«Este livro não é um livro de História, mas sim de histórias», nas palavras da autora. É uma obra que transporta o leitor para a Lisboa do final da década de trinta e início da década de quarenta do século passado, através de testemunhos, muitas vezes na primeira pessoa, dos refugiados que procuraram Portugal como o último reduto europeu para quem já não encontrava segurança numa Europa em guerra.
Livro acompanhado de guia da cidade, com percursos e um mapa da época apenso. Versão em português (168 pp. + 32 pp. + mapa).
Observações: DESIGN: ATELIER HENRIQUE CAYATTE
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