Monday, August 23, 2004

Chego,
Sempre tarde.

Isso, de que todos falam

A reinstalar o sistema

Processo em curso...

Sistema reinstalado com sucesso.

Para já é o que direi sobre o assunto.

Sunday, August 22, 2004

Geógrafo Amador

É verdade que o Geógrafo Amador não era isto, mas apeteceu-me recordar o título, portanto, insisto.

Porto Côvo, ao contrário do que é hábito dizer, não ficou um horror. Vila Nova de Mil Fontes ficou, a Zambujeira ainda não, e Porto Côvo também. Claro que eu gostava mais se houvesse só umas casinhas antigas, se possível com velhos e gente antiga à janela, e nem um chinelo a roçar o fato de treino de nylon. Claro. Mas é por isso que sou um bocado egoísta.

Quando não sou, reconheço que os outros também podem querer aproveitar um pouco de mar assim, querer uma esplanada, querer beleza. E nessas alturas acho que ainda não estragámos tudo. Porto Côvo ainda dá para passar uma tarde. E se for a caminho de casa, antes de jantar, passa-se numa surpresa, um mini-mercado que se chama Tropicação e que vende massas bem empactodas, geleias caseiras, enchidos de Estremoz e Barrancos e seis longas prateleiras de vinhos não banais.

Já que trouxeram a cvilização, ainda bemq ue não veio só o pior.
Olhamos corpos, devoramos corpos, escolhemos corpos, redefinimos corpos, plastificamos corpos, emagrecemos corpos, engordamos corpos. Pelo corpo fazemos, ou prometemos fazer, de tudo, e muito mais do que faríamos pela alma - seja lá o que isso for. Olhamos o nosso, comparamos o nosso e observamos, assumida ou clandestinamente, o dos outros. Se o corpo é central na nossa existência, que se lixe quem acredita que não há comparação, competição. Claro que há. Até podemos coçar carinhosamente a barriga invocando milhares de iguarias, mas nunca perdemos consciência de que ela está lá. Até os intelectuais têm um espelho em casa. Por alguma razão há-de ser.

E de repente, dia 19, na página 16 do DN, Kenton Tatcher retrata um deficiente e nós passeamos pela imagem em busca do que falta, do erro que não descobrimos. Só no fim encontramos um pedaço de perna que não está. Está tudo, está perfeito, só não tem um pedaço de perna.

Não sei absolutamente nada desta fotografia, não faço ideia nenhuma e fico à espera do jornalista que a tenha visto e tenha ido descobrir a história. Eu, por enquanto, só sei um coisa, esta imagem fez mais pelos deficientes, pelos que participam nos paralympic games ou não, do que as centenas de crónicas que em breve irão dizer que ninguém liga nenhuma aos nossos atletas deficientes que se fartam de ganhar medalhas.E por uma razão simples: esta imagem confronta as nossas convicções, o resto não.



Geógrafo Amador

Quem um dia me baptizou assim foi o Francisco , num canto da GR, quando por lá andava. Como gostei do título, e o conceito dos posts com este nome pode às vezes andar perto dessas crónicas, passam a ter este título.

Desde que uma praia a que chamo minha passou a ter mais de dez pessoas que passei a ter mais cuidado com revelações. Ainda por cima, dizem que em parte foi por culpa minha que revelei uma fotografia dela, embora sem dizer exactamente onde ficava,na GR. Por isso, agora segredos só às vezes e para poucos. Mas como este blog é bastante clandestino, aqui vai.

Depois da fase das saladas de polvo e dos percebes, o grande campeonato de verão é descobrir o melhor peixe grelhado. Eu sei que há coisas mais interessantes para fazer, coisas mais requintadas, mais sofisticadas, e mais elaboradas intelectualmente. Mas também há bastante pior. Podia estar aqui a discutir a melhor festa de verão. Quer dizer, não podia, mas pronto.

Isto tudo para demorar e no fim já só quem aqui chegou é que tem direito à informação. É oficial, o melhor sargo grelhado serve-se no Josué, na Longueira, a caminho do Almograve. Não é exaxgero, não é excitação juvenil, nem recebo à comissão - por enquanto. Mas é verdade. Ah, e é caro. Já ninguém descobre tascas.

Friday, August 06, 2004

Os homossexuais, essa magna questão

Lê-se o questionário feito aos três candidatos e conclui-se que o que faz de Alegre um homem de esquerda é o facto de defender a adopção por casais homossexuais. Está finalmente descoberto o coração, a essência do socialismo, da esquerda. Defendes a adopção por casais homossexuais? Não? Deves ser fascista.

Em tudo o resto os três senhores convergem. Privatizar sim, mas cuidado nas águas e nas energias. Gratuitidade do sns mas não necessariamente para os ricos que todos sabem que vão aos hospitais privados. E por aí fora.

Mas é na questão do Iraque que a resposta, unânime, é mais grave. O PS continua a querer a retirada da GNR do Iraque? Muito bem, falta explicar porquê, e o que sugere em alternativa. Devem sair porque quem tem que resolver o sarilho são os americanos? Porque se todas as tropas estrangeiras saírem do Iraque aquilo vira um paraíso no dia seguinte? Devem sair apesar da resolução da ONU? Ou devem sair porque fica bem dizê-lo?

Deve ser muito difícil ser-se do PS.

Eles são isto

Vale bem a pena ler algumas coisas no Público de hoje sobre o PS.

Aparentemente o partido estará numa encruzilhada. Ou vira à esquerda, ou vira ao centro, seja lá o que isso for. Mas o mais fascinante não é isso, é o que eles dizem.

Se alguém fizer o favor de os ler - e eu confio que a Maria João Oliveira foi fiel a descrever o essencial do pensamento destes cavalheiros - o conceito de vazio ganha uma nova dimensão.

Tirando o Dr. João Soares, que ameaça renacionalizar, só não diz o quê, o resto entretém-se a medir o tamanho da sua esquerda. Lamentavelmente só lhe discutem a forma, não o conteúdo, o que daria um certo jeito para os compreender.

Fora de brincadeiras, e em homenagem à seriedade, espera-se que a inteligência pátria reconheça que não há ali uma única ideia - tirando a renacionalização, reconheço.

Esta gente tem a boca cheia de esquerda, e dizem-no. Só não dizem a que sabe.


Seguem-se algumas pérolas.

"O facto de não querer discutir ideologia é já uma atitude ideológica mais à direita."
Manuel Alegre sobre ideologia.

A questão fulcral, frisa Alegre, reside "entre quem defende as estratégias baseadas em princípios que podem implicar rupturas e quem está sempre a pactuar com o situacionismo, com o pragmatismo e com a gestão sem ideologia".
O mesmo Alegre, sobre o camarada Sócrates, que deve ser um bandido infiltrado pelos gajos que ainda não engoliram o 25.

"o socialismo tem de mudar". De que forma? "Não se autodiluindo e não se deixando colonizar pela hegemonia ideológica do neoliberalismo".
Manuel Alegre sobre o destino do socialismo. E sobre o Camarada Sócrates.

Para Alegre, as mudanças passam pelo incremento de novas formas de representação e organização, pela definição de grandes orientações estratégicas e por uma renovação do papel do Estado - o "Estado estratega", como designa -, responsável pela supressão das falhas do mercado e promotor de serviços de interesse geral.
Manuel Alegre sobre o que mudará no mundo se o seu socialismo governar a Pátria.

A ideia, explica, é, "por um lado, o Estado ser o promotor das políticas sociais, que são inseparáveis dos direitos políticos, e, por outro, suprir as falhas do mercado e estimular determinadas áreas, como a educação, a cultura ou a qualificação das pessoas".
Manuel Alegre inovando profundamente o conceito de socialismo e de Estado Social. E revelando como é de esquerda.

Para Sócrates, uma das funções da "esquerda moderna" é "resistir a este ataque da direita à esfera pública": "Nem tudo deve ser entregue ao mercado e à esfera individual na nossa sociedade". Defende "melhores serviços públicos", beneficiários de "boas doutrinas de gestão".
Sócrates sobre, afinal, o que é o socialismo. E como é radicalemente diferente de tudo o resto.


No meio disto tudo aparece João Soares:
"Não tenho nenhum preconceito à partida. A renacionalização é um instrumento interessante."

A economia da futilidade

As coisas que se descobrem . Como é que é possível perceber a economia se já existe um mercado de toques de telemóveis que terá gerado 2300 milhões de euros num ano?

Ok, ok, eu comprei uma bandeira para enfeitar o visor. Decididamente estamos na economia da futilidade. Os que estamos. E, nessa parte, isso é bom.

A dream comes true

Comprei uma mesa de matraquilhos! A sério, daquelas pesadas de madeira. Vou ser tão feliz às vezes (o Epicuro que se lixe).

Thursday, August 05, 2004

Jantar

Não sei porquê, mas suspeito que como este vão aparecer aqui mais uns posts.

Receita para jantar:

Numa frigideira coloca-se meia cebola para saltear com vinho do porto,e em seguida junta-se cogumelos frescos, um pouco de azeite, umas rodelas finas de pepino e no fim tomate maduro. Tempera-se tudo com um pouco de vinagre e flor de sal. Serve-se em cama (esta coisa dos restaurantes modernos dizerem que servem pratos em cama disto e daquilo fascina-me, deve ser um toque afrodisíaco semi-subtil. Seja como for, apetece-me dizer que também sirvo em cama) de agriões temperados com limão.
Junta-se queijo de cabra levado ao forno, com mel por cima e meia dúzia de nozes desfeitas. Ao contrário da minha experiência, o mel deve ser junto apenas no último minuto de forno. Poupa muito trabalho na lavagem da loiça.

Serve-se lá fora, numa noite razoável, com tochas, Nusrat Fatah Ali Kan e um copo de vinho branco.

Simples.

Epicurisses

Será que quem foi feliz uma vez é feliz para sempre? Ou a felicidade é transitória? E será transitável? Transacionável?
Não faço ideia.

Wednesday, August 04, 2004

Todos os portugueses têm um saco de plástico - não, isto não é sobre o Expresso

Em casa de todos os portugueses, e deve ser só em casa dos portugueses, há sempre, pelo menos, uma dezena de sacos de plásticos que são utilizados segundo critérios rigorosos e que só uma análise psico-socológica profunda consegue identificar.

O saco do Pingo Doce dá para levar iogurtes para a praia, mas é inútil para quando se tem de levar os documentos do irs à repartição de finanças, caso em que um saco verde escuro da jandaia - que raio será a jandaia? - serve perfeitamente. Já o de papel reciclável da zara serve perfeitamente bem para levar uma garrafa de vinho a casa de uns amigos, mas é inconveniente se o objectivo for trasnportar um tupperware. Nesse caso usa-se um isotérmico, ou então um de plástico claro, mas que não seja de supermercado. Há uns bons nas perfumarias.

Finalmente, o clássico saco das lojas das meias é o ideal para levar uma camisola que se pediu emprestada, e que em caso algum pode ser devolvida, como se de lixo ou cenouras cruas se tratasse, num vulgar saco do pão de açúcar.

Em todo o mundo há sacos, mochilas, malas, e mãos, para carregar coisas, mas por algum espírito de reciclagem profunda, ou de pobreza inesquecível, ou simplesmente porque gostam do som do plástico a abanar contra o vento, os portugueses não resistem a ter um saco de plástico na mão. Estranho país.

Experimentem passar mais de duas horas numa repartição de finanças e vão ver como há imensa coisa interessante.


O parlamento, essa maçada

O artigo de ontem do Prof Jorge Miranda no Público é de uma clareza definitiva. O dr. Sampaio é - como qualquer presidente -, com certeza, livre na sua apreciação da realidade política, mas é, necessariamente, prisioneiro dos factos.
E os factos eram bastante simples: uma maioria parlamentar sustentava o anterior governo e dispunha-se a sustentar outro, sem necessidade de dissolver o parlamento. Ora, por muito que isso complique algumas vidas, o país é convidado a votar em deputados, e a maioria dos eleitos sustém este governo. Os factos, como é seu costume, são o que são. Goste-se ou não do resultado.

Conclusão, se o dr. Sampaio tivesse dissolvido o parlamento teríamos inaugurado o fim da componente parlamentar do nosso sistema político. É que a geometria pós eleitoral faz parte do sistema. Recusá-la é recusar o sistema por inteiro.

Por outro lado, as mesmas criaturas que consideram este governo ilegítimo sentam-se alegremente no hemiciclo sem lhes pesar o fardo da ilegitimidade, o que é extraordinário.

Com a fuga anedótica do dr. Ferro, será que a restante rapaziada que se senta na bancada do PS se sente menos legítima? Se o dr Louçã se recusa a tratar o Primeiro - Ministro por Primeiro-Ministro, não deveria ser consequente e, considerando que acredita que o contrato político está dissolvido, arrumar as malas e sair?

Se o dr. Lopes é ilegítimo porque o povo vota mesmo é nos líderes dos partidos, o que é que a rapaziada do PS que assim acha que foi eleita ao colo do dr Ferro ainda ali está a fazer?

Esta coisa da coerência é muito aborrecida.


Monday, August 02, 2004

Voltei

Pela mesma razão que comecei e que parei tantas vezes. Porque me apetece, porque tenho tempo, porque escrever é um óptimo pretexto para ler e pensar. Porque agora tenho tempo.

E deixei de ser anónimo porque a razão que justificava o anonimato já não existe. Agora não corro o risco das minhas opiniões serem imputadas a outros, de os responsabilizarem pelo que escrevo. Só por isso começo agora a assinar HB (Henrique Burnay), como nos tempos em que escrevia.