Teus olhos gritam um silêncio hercúleo. Daqui te ouço, Maria, sou só pedaços. O final da rota te entupiu de ecos, sob escombros treme esse teu peito murcho, já não há sorriso, a lembrança é rala, o amor é sépia, amanhã chegou? Onde está teu rio, tuas meias margens? Por qual das caixas, aquele teu lilás? E essas mãos aí, tão sedentas, imóveis; tão lacradas, sujas; e essas rugas vastas - todas rastros vãos? E esses teus olhos turvos, que eu não vejo e sinto? (nos teus olhos bebo o cheiroazul do mar). Não vá tão logo, que a esquina é perto, o coração é reino e muito mais suporta, o sol aquece sem nenhuma prece: não vá perder-se pra não mais voltar.
Teus olhos berram, Maria, é sede!
Sylvia Araujo