Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, janeiro 28
Orçamento de Estado - (1)
É um tema sempre central no debate politico - o orçamento de estado - desta vez debatido fora de época. Hoje já ninguém aborda a questão do tempo neste processo, ou seja, o facto do PR ter "esticado" o mais possível todos os prazos. As eleições legislativas podiam ter sido realizadas não a 4 de outubro - ainda se lembram? - mas uns 4/5 meses antes permitindo que o governo que delas saísse elaborasse a proposta de orçamento para 2016 nos prazos normais. Mas outros valores, e interesses, mais alto se levantaram e chegados a este ponto levanta-se um coro de pressões em volta da proposta de orçamento de estado. Tudo se resume a uma refrega marginal aos grandes problemas com que se debate a Europa e nela a cúpula politica da UE. O núcleo central dos problemas são em breves linhas: a) a crise do modelo austeritário que será enviado, em breve, para o caixote do lixo da história; b) a emergência de fenómenos de xenofobia e racismo nos países do norte da europa revelados pela vaga migratória com a tomada de decisões anti migração atentatórias dos princípios basilares da própria UE; c) o alargamento, e reforço, de forças politicas extremistas, de perfil anti democrático, senão protofascista; d) a grave crise financeira em Itália e a profunda crise politica em Espanha (as 3ª e 4ª maiores economias da UE) e, para não ir mais longe, e) a manifesta indigência politica da liderança da UE. O tardio debate orçamental em Portugal é um assunto menor, e doméstico, dramatizado no rescaldo de todas as eleições, com resultados incómodos para as forças ainda dominantes na cúpula da UE, que o governo terá de tratar e resolver com pragmatismo.
segunda-feira, janeiro 25
Presidenciais - Finito
Ontem por esta hora estava decidida a eleição presidencial. O vencedor havia sido antecipado restando, somente, uma réstia de dúvida acerca de uma eventual 2ª volta que só uma elevadíssima abstenção poderia tornar possível. Nada de novo a ocidente. O que interessa, na verdade, numa eleição presidencial é o vencedor. Ao contrário do que hoje li numa manchete no Expresso online não é sério fazer comparações entre votações em legislativas e presidenciais sendo certo que nestas, paradoxalmente, nem o PS saiu derrotado, nem o PSD saiu vencedor (melhor dito as respetivas lideranças). O próximo Presidente da República (e não Chefe de Estado, como se dizia no Estado Novo)não obedecerá aos ditamos do partidos de que é originário nem afrontará os partidos que à primeira impressão se lhe deviam opor. Pelo menos assim será, quero crer, ao longo do primeiro mandato ou em grande parte dele. Nestas funções, nos nossos dias, conta muito a personalidade do eleito e menos as suas eventuais obediências partidárias, ideológicas ou outras. Honrando uma tradição desta República, que raramente foi traída, o Presidente, após a sua eleição, torna-se Presidente de todos os portugueses. Mesmo que tenha preferências pessoais, manifestadas nos bastidores, o seu posicionamento institucional e público é o de árbitro/conciliador em prol do interesse nacional. Assim quero continuar a acreditar que será com Marcelo Rebelo de Sousa.
sexta-feira, janeiro 22
Presidenciais - take 14
Na véspera da eleição presidencial escolhi o sentido do meu voto. Nunca senti, em eleições passadas, o sentimento que vem junto à indecisão, ou seja, no meu caso, a desilusão. O naipe de candidatos que se apresentaram, e foram aceites pelo TC, disputaram uma espécie de jogo com o resultado final, aparentemente, marcado à partida. As razões desta circunstância não são claras. Parece estar tudo decidido mas o voto popular, o sufrágio universal, livre e democrático, pode baralhar todos os cálculos. O meu voto irá para Sampaio da Nóvoa. A minha decisão foi muito influenciada pelo facto do apoio que lhe foi manifestado por Eanes, Soares e Sampaio, candidatos presidentes em quem votei no passado. A escolha destes três anteriores presidentes não pode ter sido fruto de acaso, conspiração ou ignorância das qualidade de Nóvoa para o desempenho da função presidencial.
quarta-feira, janeiro 20
NUNO TEOTÓNIO PEREIRA
Faleceu hoje o Nuno Teotónio Pereira, uma personalidade impar, quer pelo seu percurso profissional, enquanto arquiteto, com obra feita, quer como cidadão empenhado em causas nobres em prol da liberdade, contra a tirania, pela dignidade da pessoa. Deixo-lhe, aqui, o meu preito de homenagem pela sua intervenção cívica, exemplo de cidadania ativa, da qual muito beneficiei e, certamente, não agradeci o suficiente. Abraço toda a sua família na perpétua lembrança do seu exemplo.
segunda-feira, janeiro 18
domingo, janeiro 17
Presidenciais - take 13
À distância de uma semana, as eleições presidenciais interessam pouco, mas o pouco que interessam é muito. Não vou descartar mais nenhum candidato para receber o meu voto. É certo que votarei, como sempre. Tudo visto e ponderado restam-me Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém e Marisa Matias. É notável, desde logo, a presença de duas mulheres numa "short list" em eleições para Presidente da República.
Art.º 120º da Constituição da República Portuguesa
«O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante
a independência nacional, a unidade do Estado e o regular
funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência,
Comandante Supremo das Forças Armadas.»
Art.º 120º da Constituição da República Portuguesa
«O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante
a independência nacional, a unidade do Estado e o regular
funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência,
Comandante Supremo das Forças Armadas.»
sexta-feira, janeiro 15
Presidenciais - take 12
A pouco mais de uma semana das eleições presidenciais. Não desvalorizo estas eleições mau grado o desalento que não resulta delas mas da descrença instalada pela crise que se arrasta sem fim à vista. As mudanças que estão a ocorrer por toda a Europa ainda não são percetíveis pelo comum dos cidadãos, muito menos o sentido delas. Vislumbram-se os sinais que apontam para uma recomposição dos blocos políticos com a emergência dos populismos de diversos matizes ideológicos a que corresponde um esvaziamento do centro politico, ocupado pelo trabalhismo, social democracia, socialismo democrático e democracia cristã,(conforme os países e respetivas tradições), herança do período dos anos gloriosos do pós 2ª guerra mundial. Os reflexos em Portugal deste fenómeno são, como sempre, tardios e permitem entender o afastamento dos partidos do chamado "arco da governação" ao apoio, direto e assumido, a qualquer dos candidatos presidenciais. Julgo nunca se ter visto em Portugal este tipo de fenómeno. Assim pode bem acontecer que as eleições presidenciais sejam ganhas pela abstenção, ou seja, pelo conformismo.
O NOSSO TEMPO
Um mundo de violência, dividido pela posse da riqueza, como sempre ao longo da história, pela posse das matérias primas, das rotas, dos territórios, disputas pelo domínio da terra, do mar, do espaço vital, com guerra sempre à vista mesmo quando predomina a paz, cegueira ideológica, idolatria por chefes, desprestígio do sagrado, sedução e culto pelo dinheiro, sempre com novas formas, escalas e artes de cativar a maioria. A tirania espreita na esquina da intolerância. É preciso que se ergam vozes e luzam rostos capazes de, com realismo e coragem, enfrentarem, uma vez mais, o totalitarismo que, sob diversas vestes, se insinua por entre os povos que trabalham e aspiram à paz e à liberdade.
Fotografia de Hélder Gonçalves
Fotografia de Hélder Gonçalves
terça-feira, janeiro 12
Presidenciais - take 11
Cada vez mais próximos do voto nas presidenciais (12 dias) sem um rasgão criador no tecido já gasto do nosso modelo eleitoral. Marcelo ensaia algumas deambulações pela "esquerda da direita" - a velha questão do centro - anunciando o que todos sabem: ninguém ganha eleições presidenciais contra a esquerda. O seu problema, ou melhor, o nosso problema é aquele velho defeito que os mais atentos lhe atribuem: é verdade tudo o que Marcelo afirma, com exceção do que conhecemos. Mas, afinal, este defeito na politica é somente um detalhe quando não mesmo uma virtude.
segunda-feira, janeiro 11
domingo, janeiro 10
Presidenciais - take 10
Começou hoje a campanha eleitoral para as presidenciais. Os debates já lá foram e deles resultou, na minha perceção, a exposição de algumas fragilidades de Marcelo e a confirmação da plena divisão da esquerda. A ver vamos se as fragilidades de Marcelo, a principal das quais já Passos havia identificado, sem nomear o destinatário, como o "catavento", são, em conjunto com a abstenção, suficientes para impedir a sua vitória à primeira volta. Marcelo tem vindo a colocar-se numa posição de vencedor antecipado à primeira o que tornará a simples existência de uma 2ª volta numa derrota pessoal criando-se, a partir de 24 de janeiro, a expetativa de que tudo poderá a acontecer se a esquerda tiver a capacidade de se unir concentrando os votos. Como se diz no futebol: "prognósticos só no fim do jogo".
quarta-feira, janeiro 6
Presidenciais - take 9
A dezoito dias das eleições presidenciais, mais debate menos debate, venho dizer da minha rejeição dos discursos populistas seja qual for o candidato que os profira. Aí está incluído Paulo Morais que nunca recolherá o meu voto. Um dos maiores perigos do nosso tempo para a liberdade e a democracia, hoje mais do que ontem, é o discurso do “são todos iguais”, “todos corruptos”, carregado com variadas manifestações de racismo e xenofobia, que se espalham como fogo em palha seca pela nossa sociedade.
segunda-feira, janeiro 4
Pelo 56º aniversário da morte de Albert Camus
Camus publicou em vida dezanove obras, de 1937 a 1959, entre as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro (“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948, “Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937, “Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand” em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”.
Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de 1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”; o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean Grenier.
Presidenciais - take 8
Já vi alguns excertos dos "debates presidenciais" e quero dizer que não me parece que se deva diminuir a sua importância no contexto em que ocorrem. Por vezes paira a tentação de diminuir o valor das eleições democráticas, do debate livre, da diversidade, e pluralidade, das opiniões, ao invés de o incensar. Pelo que pude observar, incluindo a ingenuidade e megalomania que, por vezes, afloram nas palavras e posturas de alguns candidatos, nada desabona esta disputa eleitoral aos olhos da opinião pública, a não ser que se pensasse que o eleitorado a que se destina a campanha fosse constituído por uma plateia de sábios. Resta saber se a falta de vibração e entusiasmo que inunda a nossa vida pública, por razões de todo alheias às eleições, pode ser revertida por um ato eleitoral. É claro que não pode, mas nunca poderia ser diferente fossem quais fossem as candidatas, ou candidatos, presidenciais. Como diria um putativo candidato que não chegou a sê-lo (e foi pena): é a vida!
sábado, janeiro 2
Presidenciais - take 7
Não por falta de interesse, mas por razões de logística, não vi qualquer dos "debates presidenciais". Pelo que tenho lido acerca dos mesmos, realizados até ao momento, não fiquei mais pobre intelectualmente, nem mais esclarecido politicamente. Uma das classificações acerca do perfil dos candidatos, após esta primeira amostra dos debates nas TV s, parece-me interessante: três candidatos, dois propagandistas, dois snipers e três animadores (mais palavra menos palavra). Todos merecem o mesmo respeito, e tratamento, mas estas eleições presidenciais confirmam, mais do que anunciam, o fim de um ciclo politico. O que vale é que o povo é mais esclarecido do que parece.
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