quinta-feira, janeiro 9

Pelo aniversário da morte de meu pai

No dia de aniversário da morte de meu pai Dimas, uma das poucas datas que nunca esqueço, relato um episódio que me foi lembrado, dias atrás, pelo meu amigo Eurico. Quando da minha primeira viagem para Lisboa, a propósito do ingressso na faculdade, ostentava uma gravata preta. Daí o Eurico perguntar da razão. Segundo ele a minha resposta foi: "Estou de luto pela sociedade". Apesar da idade adolescente a minha consciência social, pelos vistos, era alta. Deve-se a meu pai (e a meu irmão). Que estejam em descanso.

terça-feira, janeiro 7

A Primeira Imagem

Em 8 de janeiro de 2005 foi esta a primeira imagem publicada neste blogue. Fotografia do meu amigo Hélder Gonçalves (um grande fotógrafo!).

sexta-feira, janeiro 3

Pelo 65º aniversário da morte de Camus

1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.

quarta-feira, janeiro 1

Ano Novo

Hoje é dia de Ano Novo que sempre foi importante na minha relação com o tempo. Surge-me na memória o "Golpe de Beja", tentativa de sublevação militar, destinada a derrubar a ditadura, realizado de 31 de dezembro para 1 de janeiro de 1962. Nessa madrugada regressava de casa de meus avós maternos, de Santo Estêvão, Tavira, para Faro, e era visivel a atividade policial, fora do vulgar, pois alguns dos sublevados do golpe frustado fugiram para sul. Hoje por hoje, dentro das fronteiras, reina a paz ainda sob os auspícios do acordo de regime saído do 25 de abril de 74. Até quando? A ver!

terça-feira, dezembro 31

2025

Não pensei nunca chegar a este dia no ativo no plano profissional, com saúde e capacidade de sonhar. Mas a vida é para viver dia a dia e, como diziam os antigos, o futuro a Deus pertence. Adivinho 2025 ainda mais conturbado por efeito das disputas de territórios e riquezas, ganancias e perfídias, o reino dos negócios da guerra. Alguma nova aliança entre os homemns de boa vontade tem que ser criada para combater a presente deriva autoritária e belicista. Tenho esperança, com os desejos de Bom Ano de 2025.

terça-feira, dezembro 24

NATAL

A sul, na minha cidade Natal, não chove nem venta, ressoam as memórias antigas que abraço sem temores. A todas e todos que por aqui passam deixo os desejos de um Bom Natal.

segunda-feira, dezembro 23

O caminho das figueiras

As figueiras e as suas sombras quentes são um laço que me prende à vida pela memória. Descia o caminho de casa à estrada e passava por elas, umas castelhanas, outras vulgares, de copas grandes e arredondadas, baixas e rasteiras e a todas conhecia de cor. A minha mãe me ensinou o caminho para lhes chegar. Na época de verão, aí por Julho, os figos eram, quase sempre, suculentos. Arrancava-os com cuidado para uma cesta, primeiro os mais acessíveis, às minhas mãos de menino, depois os das ramadas mais altas, em bicos de pés. Alguns sempre ficavam inacessíveis. Não me importava com esses. Nunca me importei com o que é inacessível a minhas mãos que não a meus olhos. Leitosos escorriam seiva e, por vezes, ressequidos, abriam fissuras finas por onde se iniciava a retirada da pele. Depois comia-os com prazer. A apanha, a meio da tarde, era dolorosa. Ia-mos muitas vezes pela força do calor, como lá se diz, e ficava doente. Ou pelo sol que me fazia ferver a cabeça ou pelos figos que me descosiam o intestino. Ainda hoje algumas dessas figueiras estão à beira do mesmo caminho. A mais frondosa resiste defronte do antigo poço, abandonado, mas que noutros tempos alimentava de água o monte. O prazer da sombra das figueiras, do cheiro ao campo, embebido no ar quente, do sabor dos frutos, colhidos à mão, nunca me deixou por um só momento. Somente, por vezes, descanso dele. É esse prazer físico da memória que me faz amar aqueles que me amam. E resistir às adversidades. (Fotografia em que a minha família materna posa, certamante para a Kodak do meu pai, no monte de onde sai o caminho das figueiras)

sábado, dezembro 21

Pelo cinquentenário do I Congresso do MES

O MES constituiu-se, formalizando-se, num Partido a custo pois as suas raízes beberam muito da ideologia libertária, que havia esmorecido ao longo do período da ditadura, mas que César de Oliveira fez retornar propondo, e fazendo vencer, a consigna que o MES adaptou nos seus primórdios: «A emancipação dos trabalhadores tem de ser obra dos próprios trabalhadores». O MES foi, na verdade, um partido minoritário de elites, e de causas perdidas, nunca se assumindo como projecto politico de poder, abordando as eleições às quais concorreu – constituintes de 1975 e legislativas de 1976 - com um surpreendente espírito de cruzada pedagógica junto dos portugueses, que nunca haviam conhecido a cor da liberdade, razão pela qual, sem apelo nem agravo, em todas foi estrondosamente derrotado. O MES foi, no seu âmago, um partido da esquerda radical, mais do que um partido esquerdista, lidando mal com alinhamentos ideológicos mesmo aquando da sua deriva marxista-leninista, reconheçamo-lo, uma mera proclamação artificial e dolorosamente patética. O MES foi um esboço de casa comum na qual se acolheram cidadãos desalinhados – livres de compromissos com o antigo regime - que aspiravam combater as brutais desigualdades e iniquas misérias herdadas do “Estado Novo”. Nele se acolheram uma plêiade de altos quadros intelectuais, operários, sindicalistas, estudantis, activistas de movimentos sociais emergentes, com escassa experiência política, que na voragem de um singular tempo de brasa, sonhavam – sob diversos e contraditórios ideários socializantes - a mudar tudo na sociedade portuguesa fazendo do MES, na sua breve existência, antes e pós I Congresso de 21 e 22 de dezembro de 1974, um espaço de rebeldia e, no período fundador, de criatividade como revelam, por exemplo, as designações de inúmeras estruturas criadas e a obra gráfica, criada por Robin Fior, para a criação de uma imagem para o MES. O MES foi, por fim, um partido que ousou auto extinguir-se – se bem que nem todos os que nele tomaram parte tenham concordado com o “sacrifício” - tendo cada um dos seus membros, ao longo do tempo, saído, em liberdade, dando caminho às suas vidas nos mais diversos caminhos. Extinguindo-se, por ato público o MES assumiu, de forma radical, o fracasso do seu projecto político salvando a essência dos sonhos que presidiram à sua criação. (Reprodução de excerto de um post de 2014 de entre muitos dos escritos acerca do MES que aspiro ainda a que dêem origem a um livro.)

I Congresso do MES - Cinquenta anos

Passam hoje 50 anos sobre a realização do I Congresso do MES. 21 e 22 de dezembro de 1974 - Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa.