2.11.07

"Portugal deve sair da união Europeia?"


Vital Moreira propôs um referendo não ao Tratado Reformador (segundo ele, em si mesmo, este Tratado não deverá ser referendado)*, mas sim à eventual saída de Portugal da UE, aproveitando o facto de o novo artigo 35º do Tratado regular expressamente aquilo que, constando ou não da letra dos Tratados, sempre existiu: a possibilidade de um Estado-membro "retirar-se da União".

"Querem um referendo europeu? Então aí está o verdadeiro e genuíno referendo europeu!", diz Vital Moreira.###

Ora, é verdade que, em matéria de referendos, campanhas, simples discussões sobre Tratados comunitários ou a propósito de qualquer assunto, mesmo estritamente técnico, relativo à União Europeia, por mais voltas que se dêem, o debate faz-se sempre, invariavelmente, entre aqueles que são adeptos da integração europeia (do status quo dominante e oficial da União) e os outros, aqueles que, no fundo, são sempre contra.... contra "esta" Europa (se bem que a favor de "outra" qualquer que só raramente se percebe qual possa ser!).

Por isso, também não deposito muitas ilusões na bondade concreta de um referendo ao Tratado. As mesmas discussões inconsequentes, as mesmas imprecisões e as posições políticas redutoras, populistas, de sempre, sobre estas matérias europeias, seriam novamente e comicieiramente, repetidas.

Agora, isso não me impede de achar que, pelo menos, sob o ponto de vista da pacificação e da clarificação política (e até já já nem falo das respectivas legitimidade e oportunidade democráticas) um "referendo europeu" seria importante....só que não nos termos em que Vital Moreira o propôs.

É que o referendo que V.M. sugere, já com a pergunta redigida e tudo, deixaria sempre descontentes aqueles que dizem que não são contra a integração, mas sim a favor de "outra" qualquer e que, assim - diriam - não se puderam manifestar politicamente sobre este assunto. Até porque, na realidade e ao contrário do que sugere Vital Moreira, entendo que há razões para se referendar o Tratado Reformador em si mesmo: na realidade, a unanimidade entre todos os Estado-membros reunidos em Conferência inter-governamental, no futuro Tratado e entrando em vigência o presente texto de Lisboa, deixa de ser condição necessária para a revisão dos Tratados.

É certo que as condições permanecem restritas (artigo 33º do Texto de Lisboa, que substitui o actual 48º do Tratado da União Europeia, na versão de Nice), ou seja, exige-se agora, em Conferência dos Representantes dos Governos dos Estados-membros, o "comum acordo" para se alterarem os Tratados (no processo de revisão ordinário).
É certo que, materialmente e em função da real politik que sempre marcou as negociações e as tomadas de posição sobre matérias deste tipo (adesões, revisões dos Tratados), apesar dos diferentes passos institucionais agora (no texto de Lisboa) previstos para a revisão dos Tratados, a solução acaba por não diferir muito daquela que, sobre este ponto, já existe....Mas , enfim, para quem quiser embirrar, a unanimidade é diferente do comum acordo...

Assim, continuo a pensar que há espaço de manobra e propriedade para um referendo ao Tratado que, caso merecesse uma votação positiva (como suponho que sucederia entre nós) tornaria – aí sim! – desnecessária a proposta de V.M.

* Actualização - Outros contributos (para além dos links do texto do texto): aqui.

1.11.07

Cheque ensino e Ensino Público

Comentário do leitor Solitaire:

Estava convencido que falar de cheque-ensino remetia automaticamente para as escolas privadas. Como é que se concilia cheque-ensino com escola estatal? Não estou a ver como.


O cheque-ensino consiste num vale a atribuir em plano de igualdade a todos os alunos. Os pais podem usar esse cheque em qualquer escola, pública ou privada. O cheque-ensino limita-se a permitir a escolha aos pais. Não os obriga a inscrever os filhos numa escola privada. Se eles acharem que as escolas públicas são melhores para o seu filho, nada os impede de inscrever o filho numa escola pública.

A partir do momento que todos os alunos recebam do Estado um cheque para a educação, as escolas estatais terão que forçosamente encerrar, sob pena de a despesa pública disparar para níveis estratoféricos.


As escolas públicas só encerrarão se não forem capazes de atrair alunos prontos a pagar com o cheque-ensino os seus serviços. A despesa pública não dispara porque os cheques gastos nas escolas públicas revertem para as escolas e o estado não tem que gastar (mais) dinheiro com elas. As escolas públicas só fecharão se não forem capazes de atrair alunos. Só fecharão as escolas públicas que forem muito más ou que não forem capazes de se adaptar à procura.

Note-se que o cheque ensino está em vigor na Suécia e mais de 90% são escolas públicas.

O cheque ensino limita-se a colocar as escolas privadas e as públicas em pé de igualdade no que diz respeito ao financiamento público. Permite aos pais votar na escola com os pés.

A escola pública e as lojas do povo

A nossa leitora Gabriela fez o seguinte comentário:

Fala dos resultados que se veem. Que resultados? Que em trinta anos a alfabetizacao da populacao portuguesa passou de 30% da populacao para 90%? Realmente é um resultado muito triste. Os meus pais tem menos da quarta classe, eu fiz a Universidade. Realmente é um resultado tristissimo.


Penso que na antiga União Soviética as pessoas terão feito raciocínios destes. Os defensores do regime poderiam ter argumentado que os sovkhozes e kolkhozes eram uma excelente forma de organizar a produção agrícola e as lojas do povo uma excelente forma de distribuir os bens produzidos pelas empresas do estado. Afinal, estas formas de organização alimentaram 3 gerações de soviéticos. Sem elas, teriam todos morrido de fome.

Quem é contra a escola pública só pode ser pelo analfabetismo. Afinal, se não fosse a escola pública não haveria outra forma de ensinar os portugueses a ler. Os portugueses, sem ninguém que lhes pagasse a escola, e sobretudo sem ninguém a que a organizasse, ficariam eternamente embrutecidos. 70% dos portugueses ainda seriam analfabetos. Esta posição é interessante, principalmente se tivermos em conta que os maus resultados da escola pública são justificados com o meio socioeconómico dos alunos. Mas se o meio socioeconómico é assim tão determinante para a educação, porque razão se atribui o desaparecimento do analfabetismo à escola pública e não ao crescimento económico e à abertura social que o país sofreu nos últimos 50 anos?

Onde me sinto eu

Obrigado por cada linha, por Francisco José Viegas, n' Origem das Espécies (sobre uma imundice).
O Porto em baixa, por Manuel Queiroz, na Bússola (sobre o falhanço da SRU).

Pedir o impossível *

Pomposamente, Mário Lino reabriu ontem a ponte Eiffel de Viana do Castelo. Com a prosápia que tanto o tem notabilizado, assegurou que a ponte “vai durar mais cem anos” e que as obras decorreram com “bastante rapidez” – estas iniciaram-se a 1 de Fevereiro de 2006, iam durar 6 meses mas só terminaram 21 meses depois. A demora arruinou muitos comerciantes. Cerca de 13 mil automobilistas por dia foram obrigados a percorrer 11 quilómetros a mais para poderem entrar no centro da cidade.
Estava a conduzir e a ouvir rádio quando um vianense disse que o ministro deveria pedir desculpa pelo enorme atraso – ia tendo um acidente. Pedir desculpa? Um membro de um Governo português? Por causa de um erro, de planos falhados, pela inépcia, por ter prejudicado os cidadãos? Mas – pergunto-me constantemente – em que país é que tantos portugueses julgam que vivem?

* Publicado ontem no Correio da Manhã

Escola pública e os efeitos do meio socioeconómico

Eu tinha escrito no DN o seguinte:

os defensores da escola pública dizem que o meio socioeconómico influencia mais os resultados que a qualidade da escola. Reconhecem, em última análise, que, ao contrário do que diz a utopia, a escola pública está muito longe de anular os efeitos do meio socioeconómico.


Pedro Sales, em vez de demonstrar que eu estou errado concorda comigo, mas depois desata a tentar demonstrar que as escolas privadas também não anulam os efeitos do meio socioeconómico.

Esta reacção de Pedro Sales é interessante. Lembro que o Estado cobra impostos sob o pretexto de que são necessárias escolas públicas para anular os efeitos do meio socioeconómico. Isto é, para compensar os mais pobres. Quando se descobre que as escolas públicas de zonas pobres são as que estão pior classificadas nos Rankings, Pedro Sales desata a falar das escolas escolas privadas. Mas as escolas privadas existem porque os seus clientes gostam delas. Não existem sob pretexto de que vão anular os efeitos do meio socioeconomico. As escolas privadas não são uma questão pública. As escolas públicas é que são. As escolas públicas é que têm de ser avaliadas pela capacidade de atingirem os objectivos para os quais foram criadas. As escolas públicas é que têm que justificar o dinheiro que lhes pagamos. Uma escola privada que não vence os efeitos do meio socioeconómico é um facto da vida. Uma escola pública que que não vence os efeitos do meio socioeconómico é uma prova da inutilidade da escola pública.

Lembro que a escola pública existe à custa de limitação da liberdade de escolha dos pais. Os pais são forçados a pagar impostos para a escola pública vendo reduzida a sua liberdade de escolher uma escola não pública. Um custo que nos têm dito que é para bem de todos e para dar uma oportunidade aos mais pobres. O mínimo que se devia exigir à escola pública é que cumprisse o que promete: a anulação dos efeitos do meio socioeconómico. É por isso que o meio socioeconómico é uma péssima desculpa por parte dos defensores da escola pública.

Um aeroporto de borla

Novo aeroporto: opção Alcochete custaria três mil milhões a menos


Três mil milhões é o preço apontado pelo governo para a OTA. Alcochete ficará de borla.