1. Como aqui foi escrito há quatro meses, Pedro Santana Lopes não tem o perfil de príncipe herdeiro. Habituado a compensar as reservas sobre a sua competência política com combates e vitórias eleitorais, PSL aceitou o governo por herança. Ao fazê-lo, dividiu o PSD, não conquistou o país, e perdeu a oportunidade de ganhar as eleições a Ferro Rodrigues.
2. No PSD só Cavaco poderá evitar uma balcanização de imprevisíveis consequências. De resto, o espaço que o antigo líder poderia conquistar ao eleitorado socialista numa eleição presidencial disputada com Santana no governo, pertence, desde hoje, a António Guterres. As feridas abertas no partido pela queda do governo, só poderão sarar com uma solução forte e inesperada.
3. O CDS ganhou poder e credibilidade nestes dois anos e meio, mas não teve tempo para construir um partido. Ainda que mais forte do que há três anos atrás, conseguiu criar um satisfatório grupo de dirigentes com boa expressão mediática, capaz de manter o score eleitoral. Mas isso não será suficiente para chegar, por enquanto, aos dois dígitos eleitorais de que Nobre Guedes falava há poucos dias, afastando-o do poder por tempo indeterminado. As eleições autárquicas, que serviriam para reforçar a sua implantação local e nacional, vão disputar-se depois das legislativas.
4. Pela primeira vez na história constitucional da III República, não se consegue antever o que possa ser o próximo governo. O palco das «Novas Fronteiras», ao qual subiriam as estrelas de um futuro governo socrático, já não terá lugar ou, pelo menos, o lugar que lhe estaria destinado. Chamar Vitorino foi prudente, embora não permita quaisquer conclusões em tempo útil pré-eleitoral.
5. O sonho de Francisco Sá Carneiro, cuja herança PSL sempre reclamou, está à beira de ser alcançado: PS com maioria absoluta na Assembleia, Sócrates como Primeiro-Ministro e Gutuerres no Palácio de Belém.