quinta-feira, 10 de novembro de 2011

USP, filhinhos de papai e revolução

Tudo bem, eu sei que o assunto ta batido, afinal, já tem mais uma série de novas informações na TV para serem mastigadas, deglutidas e jogadas fora, mas me senti fortemente atingido com a repercussão altamente preconceituosa nas redes sociais que com certeza deixariam Hitler feliz em seu caixão.


Dos tantos bullyings que já sofri, como qualquer pessoa normal nesse mundo, lembro de ter sido chamado de burguesinho por alguns moleques na rua da minha avó. Tudo bem, não brincava de bolinha de gude nem soltava pipa como muitas das crianças do meu bairro. No primário, era um dos raros alunos da minha escola que tinham videogame em casa.






Não precisou muitos anos e veio o plano Real e o período de desemprego no país, que atingiu fortemente minha família. Lógico, que a partir daí, um cara que tinha tudo pra ser engenheiro, em virtude da familiaridade com matemática e games, sentiu que havia inimigos mais difíceis para ser combatidos. O neoliberalismo era assunto complexo e precisava ser estudado. Claro que também tinha o interesse em ter um emprego, o grande sonho de todo jovem em tempos de recessão.


Enquanto a maioria dos meus colegas de escola preferiram o caminho mais curto, entrar numa faculdade sem vestibular e pagar todo mês uma baita grana muitas vezes em faculdades questionáveis (não seria isso filhinho de papai?), preferi o caminho um pouco diferente, um estudante de escola pública entrar numa universidade pública. Ter visto meu nome na lista dos aprovados na USP mudaria completamente minha vida.






Entrei na FEA, uma das faculdades mais elitistas da USP, no período da manhã, onde vc era um ser estranho se não tivesse um carro e viesse de escola pública. Entretanto, apesar disso em nenhum momento achava meu colegas de faculdade filhinhos de papai. A maioria basicamente queria ter um bom trabalho pela frente, como qualquer jovem com algumas ambições. Eram dedicados, liam manuais gigantescos e tiravam notas super altas. Muitos queriam ganhar seu primeiro milhão antes dos 30 anos.


Na verdade o que mais me incomodou na FEA era a despolitização da maioria daqueles estudantes. O Brasil vivia uma baita crise econômica na virada do século, e os assuntos discutidos por muita gente eram extremamente rasos. Todo aquele questionamento adquirido no cursinho tinha sido jogado por terra. Até dava pra entender um pouco, afinal naquele momento as fundações que existiam na FEA (FIPE, FIA e FIPECAFI), traziam muito mais os valores bancados pelos interesses das grandes corporações financeiras que financiava a faculdade (Até hoje tem quadros do Bradesco em diversas das maravilhosas salas da FEA).





Muitos dos professores nos pregavam teorias de que o Estado não deveria interferir na economia, com base em modelos matemáticos altamente questionáveis. Enfim, teve que aparecer a grande crise nas grandes economias nos últimos 3 anos para mostrar pra todo mundo que toda aquela teoria que me fizeram engolir era mentirosa. Claro que ao longo da faculdade fui descobrindo professores tão bons quanto tive no cursinho, mas era um difícil trabalho de garimpagem.






Acabei não participando de nenhum grupo estudantil. Naquele momento o que mais precisava era trabalhar, afinal a crise vinda após o plano Real ainda era sentida por toda minha família. Mesmo assim, admirava alguns dos meus colegas da FEA que participavam de algum movimento estudantil.







Um dos momentos mais legal da faculdade, tirando algumas das poucas festas que participei, das bebedeiras e dos tapas na pantera, foi dentro da sala de aula, quando por conta dos diversos devaneios de um professor que pelo menos falava o que pensava, um aluno pediu direito de resposta para o professor na aula. Levantou e relatou tudo o que pensava a respeito da maneira como o professor dava aquela aula. O professor ficou calado, atônito, enquanto o aluno falava. A sala de aula ficou em silêncio. Muitos saíram pra cumprimentar esse aluno no final da aula. Comentei pra ele que apoiava seus questionamentos. No final do ano ele teria mudado de faculdade. Disse que não acreditava nos valores cultivados por aquela faculdade. Foi estudar na faculdade de ciências humanas da USP. Nunca mais o vi.







Tempos depois, lá me via eu me sentindo torturado por teorias que não acreditava no mestrado em economia na FGV, outra faculdade de elite de SP. Agora não bastava escutar as teorias, tinha que ficar se matando de estudar todos os finais de semana assuntos que dificilmente aplicaríamos no país, mas que entretanto era importante pra faculdade ganhar seu respeito no mundo acadêmico. No final desse ano, já com meu emprego garantido, não pensei duas vezes. Larguei aquele mestrado que não me agregava praticamente valor adicional nenhum. Foi um momento tão bom quanto ter visto meu nome aprovado na lista do vestibular.







Tudo bem. Não sai com armas e nunca invadi prédios. Mas acho que a vida é feita de revoluções. Temos que nos incomodar com as coisas. Afinal se ficarmos quietos com coisas que não acreditamos, não existe indignação, não existe vida. Viva os revolucionários, seja aqueles que tentaram acabar com as ditaduras em seus países, seja aqueles que tentaram mudar suas vidas dentro de suas próprias casas, ou em sua cidade, ou em sua universidade. O poder ta cada vez maior nas mãos de poucos porque a maioria da população não toma partido de nada, só se indigna com o excesso de coragem de algumas pessoas. O que falta nesse Mundo é a necessidade de se tomar partido das coisas e nesse momento o que mais procuro é o direito de exercer plenamente minha liberdade individual, que países que todo mundo paga o pau, como a China, continuam a desrespeitar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Carnaval à Paulista e a descoberta do centro velho de SP

E estava bem animado com minha primeira participação na Virada Cultural. Afinal já faz alguns anos que meus amigos freqüentam esse evento que muitos já consideram o carnaval do paulistano. Cheguei no Centro por volta das 9 da noite, na estação da Luz com o Henrique, irmão do meu cunhado. O cara é fã do Frank Zappa e vem me mostrando vídeos legais do cara no Facebook. Ele tava com um amigo, também na faixa dos 50, que ficou surpreso com a beleza daquela estação, que fazia uns 30 anos que ele não a via. Por abrigar atrações menos populares, aquele espaço estava altamente agradável, num ambiente super tranquilo, familiar, inclusive com bancos para as pessoas se sentarem. Não conhecia nada do que tava rolando, mas foi legal ver um tipo de som diferente de tudo que já tinha escutado.






Deu 10 da noite e peguei metrô rumo à República, já que Diogo, Zelao, Dener e as respectivas já estavam no palco da São João pra ver o show do Skatalities, que começaria às 11 e era uma das atrações que estava mais a fim de ver. Saio do Metrô e percebo que nunca tinha caminhado por aqueles cantos num fim de semana à noite. Reparei como a região da República fica maravilhosa sem aquela desordem típica do centro durante a semana. Diversos prédios de uma época em que aquela região era o centro cultural da cidade. Dá pra reparar na diferença em relação ao Centro do Rio, região que trabalho atualmente e que também fico maravilhado quando passo diariamente por suas ruas estreitas e prédios centenários. Ter atravessado a praça rumo à São João me lembrou muito das minhas andanças à noite pelas praças de Nova York. Será que um dia pode acontecer com nosso Centro o mesmo que aconteceu com a Broadway em Nova York, que após viver uma decadência nos anos 70, hoje é um dos maiores pontos turísticos de Manhattan? Será que a noite da Augusta dos tempos atuais, com suas milhares de tribos, não pode descer sentido ao Arouche à 120 por hora?







Ia chegando rumo à São João e via que os ânimos estavam exaltados. Policial algemando um cara e muita gente já num estado etílico digno dos grandes carnavais. Esbarrei numa menina e do nada ela me xinga de filho da puta. Vejo que caiu no chão uma migalha de maconha que ela deixaria de fumar. Clima quente mesmo sabendo que era um show de uma banda que acompanhou um dos grandes líderes da paz do último século. Tumulto generalizado, principalmente porque resolveram colocar uma banda de destaque pra tocar numa rua estreita como a São João. Dá pra ver o amadorismo do paulista para fazer grandes festas populares. Me lembrou como o carnaval nas ruas estreitas do Botafogo são terríveis se comparados com os carnavais da Cinelândia, Praça XV, Copacabana e Ipanema no Rio de Janeiro, onde há espaço pras pessoas dançar, conversar e se divertir.







Nunca tinha passado por uma multidão como naquele instante. Pra chegar perto do palco foi um sufoco danado. Pra sair, na metade do show, pq não havia um único banheiro próximo ao palco, foi um stress maior ainda. Foi como pegar Metrô sentido Corinthians Itaquera às 6 da tarde numa tarde de temporal, por um período de 30 minutos. Foi um momento muito tenso. Pensei que poderia rolar alguma coisa pior. Uma pena, porque o show estava excelente!







Atravessamos o Arouche sentido República e vi o Ritchie tocando “A Vida tem Dessas Coisas”, que ouvi pela primeira vez na versão do Ira! Ao passar por aquele reduto gay, fiquei imaginando o choque de realidade que muitos paulistanos tiveram com os freqüentadores assíduos daquela região. Ambiente super democrático, bem diferente do que ultimamente costumamos ler nas páginas policiais. Chegamos na República e Toni Tornado estava no palco, tocando um black music da melhor qualidade: “A luta continua”. Foi muito bom escutar Primavera do Tim Maia ao lado dos meus amigos vendo aqueles prédios antigos da República, que são impossíveis de reparar durante a semana. Saímos antes do show terminar, porque Diogo queria ir no show da Marina. Encontramos mais amigos por lá, mas não deu pra escutar absolutamente nada do show dela. Não sei se por conta da voz rouca dela ou da caixa de som, ou da distância do palco (O Arouche é tão estreito quanto a São João).







Por conta disso, fomos tentar ouvir o cover dos Beattles, já que naquela hora eles já deviam estar passando pela fase psicodélica da banda de Liverpool. Atravessamos a boca do lixo da Rua Aurora pra depois cruzar com a esquina mais famosa de São Paulo. Passamos novamente pela Bela República, revi depois de uns 15 anos a Galeria do Rock e chegamos no Boulevard São João,lugar que nunca tinha passado e que me surpreendi pela sua beleza. Infelizmente não dava pra escutar nada do que aquela banda tava tocando, já que não dava pra chegar mais perto da caixa de som. Aproveitei que estava cansado e tomei o rumo de casa. Parei pra comer um segundo pastel, dessa vez de pizza. Outra coisa boa de estar em SP. Caminhei sentido metrô Anhangabaú, e passei pela maravilha do Shopping Light, Teatro Municipal e Pça Ramos de Azevedo, que meu pai costuma dizer que foi o grande urbanista de SP. Claro que peguei muvuca pra entrar no Metrô Anhangabaú. Parecia gado indo pro abate.







Enfim. Após viver 27 anos em SP, e agora 3 anos no Rio, vejo o quanto os ânimos na paulicéia são mais exaltados que os cariocas nesses eventos culturais. Dá pra fazer uma comparação com a guerra entre as torcidas em SP, que são muito piores do que vemos no Rio. Tudo bem, no Rio tem a praia, o samba, a Lapa, que relaxa qualquer um. Por outro lado, muitas bandas de rock pesado acabam inflando os ânimos da galera. Também deve ser o fato de SP ser o túmulo do samba. Enquanto Rio e Salvador tem carnaval há mais de 100 anos, não há grandes eventos em SP a não ser nos shows no Morumbi, que elitizam seu público da mesma maneira que o abadá em Salvador. SP tá engatinhando no quesito festas populares.


Fica a dica para os organizadores de que a Virada pode ser um momento mais pacífico e artístico se houvesse um planejamento melhor, com palcos melhores localizados. Porque não colocaram grandes bandas pra tocar em lugares amplos, como o Ibirapuera, a Paulista, a USP e o parque da Independência? O centro velho claro que deve continuar tendo shows, mas com bandas menores.







Apesar de tudo, foi muito bom caminhar pelo Centro de SP. Deu uma grande sensação de esperança. De comprar um apto por aquela região caso num futuro próximo aquilo lá volte a ter seus tempos de glória. Parece que o Centro de SP tem jeito. Aproveito pra dizer que no dia anterior, fui no Poupa Tempo tirar minha segunda via do CNH. Peguei a senha e me falaram que me chamariam em 2 horas e meia. Voltei no horário programado e não houve um atraso. Admiro a eficiência da cidade de São Paulo. Mas ainda oa paulistas poderiam aprender bastante a fazer festa com cidades como Rio e Salvador. Que novos bahianos te podem curtir numa boa...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Raul, Renato, Eduardo e Monica

E o legal desses anos em que discografias completas estão a preços banana, é que eu posso ficar anos sem escutar uma banda e de repente, ela volta a tocar meu ipod como se estivesse estourando novamente nas rádios. Ano passado, como venho fazendo com diversas bandas, baixei despretensiosamente toda a discografia de Raul Seixas e Legião. Além de descobrir o lado B do lado B, resgatei na minha mente coisas que adorava e que estavam guardadas num cantinho das minhas lembranças. Lembro que o disco O Descobrimento do Brasil da Legião foi um dos que mais tocaram no meu ipod ano passado, muito por conta de um trecho de uma canção: “O sistema é maus, minha turma era legal, viver é foda, morrer é difícil, ter ver é uma necessidade. Vamos Fazer um Filme..."






Tempos depois, me vi caindo na melancolia do Quatro Estações. Talvez só ano passado fui entender realmente o que Renato Russo queria dizer em Meninos e Meninas: “Quero me encontrar, mas não sei onde estou. Vem comigo procurar algum lugar mais calmo, longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita... Tenho quase certeza que não sou daqui...Preciso de oxigênio, preciso ter amigos. Preciso de dinheiro, preciso de carinho... Acho que gosto de SP, gosto de São João, gosto de São Francisco e São Sebastião”






De repente, em meio a tanta turbulência, encontrava eu num bar que tocava rock nacional da Lapa. Após tantas e outras, me vi pedindo desesperadamente pros caras tocar Raul e eles vieram com Sapato 36. Era tudo que eu precisava ouvir pra deixar de usar aquele sapato que tanto me incomodava. Até hoje é uma das canções mais tocadas, junto com Rockixe, que me fez lembrar o quanto é legal usar uma calça colorida e um novo way of life. Sim. “Aprendi a ficar quieto e começar tudo de novo”.






Já em 2011, com tudo mais calmo, Leandra manda no Facebook Andrea Doria, uma música que tinha pouco escutado, já que era um lado B do disco 2, que me faz lembrar dessa fita cassete dos meus irmãos na época que tinha 7 anos. Lembro até hoje no carro da família, com meus 2 irmãos e meus pais, momento raro, já que depois minha irmã começou a namorar e a partir daí sempre que íamos viajar, nos dividíamos entre o carro do meu pai e do meu chamado “futuro cunhado”.







Foi lá que escutei pela primeira vez Eduardo e Monica. Me identifiquei logo com a música, afinal era uma canção que levava o nome do meu irmão e da personagem dos gibis do Mauricio de Souza que já era fã. Claro que além daquela canção ser um folk tão bom quanto o melhor de Dylan, incorporava em sua letra assuntos pop, como o que Caetano fala na sua música Alegria Alegria, no filme Uma Noite em 67.






O engraçado é o quanto eu tinha de Eduardo naquela época, já que gostava de novela e jogava futebol de botão, não com meu avô, apesar dele ser altamente presente naquela época. Em muito sentido ainda continuo Eduardo, afinal ainda freqüento as aulinhas de inglês. De Mônica posso dizer que ela me influenciou positivamente em abstrair com mais facilidade uma cultura um pouco mais erudita. Passargada me inspirou no cursinho. “Lá, Sou Amigo do Rei.” Por conta das cores únicas em seus quadros, como sua loucura e seu fim trágico, Van Gogh sempre me intrigou desde a infância. No ginásio já era fã de Caetano e, na faculdade, de Mutantes. Da escola de design de Bauhaus, Adriano e Ju já comentaram a respeito. Adoro falar sobre o Planalto Central, também magia e meditação. Por outro lado, sempre adorei o esquema escola, cinema, clube, televisão. Da mesma forma Godard continua ininteligível pra mim até hoje.







Enfim. Depois de ter tocado com grande sucesso no aniversário do Diogo, essa canção voltou a tocar fortemente nos últimos dias, principalmente porque além de tudo que falei, ela se parece muito com a minha vida ao lado da Ju. Muitas vezes eu sou o Eduardo, ela é a Mônica. Muitas vezes é o contrário. Nos revesamos em explicar "coisas como o céu, a terra, a água e o ar. Além do mais, todo mundo diz "que ele completa ela e vice-versa que nem feijão com arroz..."






“E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão...”

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Faze o que tu queres = Do it yourself





Segundona. 10 da noite. Não sei porque mas são nas segundas que mais tenho vontade de escrever, talvez pra contar um pouco do meu fim de semana que normalmente costuma ser muito mais interessante que o resto da semana. Noite de verão chegando. Todos na rua praticando algum tipo de esporte. Esse é o Rio de Janeiro que conheço. Praticar esportes acima de qualquer coisa. Dizem que a endorfina é uma droga poderosa, que nosso corpo produz e sempre quer mais. Para um cara que tinha no álcool um dos objetos de devoção de sua revolução pessoal, praticar esportes parece ser uma nova maneira de Tentar Outra Vez.





Falando em revoluções pessoais, vejo muitas mudanças na vida das pessoas mais próximas. 2 amigos mudando de cidade por conta de emprego e um outro em vias de largar seu trampo. Tudo muito novo. Tudo meio diferente. O verão ta chegando e também não quero perder o bonde. É necessário ter a motivação necessária pra traçar novos planos, sentir que não estou parado.






Não sei por conta dos shows que vi nesse ano, de bandas que me acompanharam em diversas das minhas revoluções pessoais, mas esses tempos foram bons pra lembrar de alguns momentos importantes em que tentei mudar o curso do trem da minha vida. No final de tudo, mesmo talvez com menos dinheiro, um pouco mais de stress, mas acredito que minha alma dormiu de maneira tranquila, porque tudo que procurei fazer em muitos momentos foi apenas tentar me encontrar. Buscar a minha identidade, procurar ser o que sou. E a vida vai seguindo. Serei sempre um sujeito feliz se sempre puder ter força de enfrentar novas revoluções pessoais no momento em que me ver perdido, trancado, fazendo uma coisa que não gosto, só porque alguém mandou. A vida é uma só...






É cada vez mais forte na minha mente ideais como os da Igualdade, Fraternidade e Liberdade, expressos nas cores da bandeira francesa. Respeite as minorias, as mulheres, os gays, os negros, o rock, era o que dizia a Revolução Cultural dos anos 60. Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei, de Raul Seixas tem o mesmo significado para mim que o lema punk do "it yourself".






Aproveito pra dizer que meu fim de semana, apesar do calor no Rio, foi regado de vibrações sensoriais trazidas por filmes americanos de baixo orçamento dos anos 70. Por módico 1 real, vi filmes que mexeram comigo, que me deixa cada vez mais insaciado na busca por filmes que me tragam um pouco de sentido nessa vida que passou por tantas revoluções mas ao mesmo tempo precisa de mais...Os filmes Corrida Sem Fim, Procura Insaciável e Bob & Carol & Ted & Alice me surpreenderam de maneira tão intensa como Brown Bunnie, Beleza Americana e Up in the Air. Cada vez fico mais surpreso com a cultura dos anos 70...Incrível como os cineastas conseguiam falar de temas tão densos. Talvez porque eram independentes, assim como a maioria das bandas que eu gosto começaram...Do it yourself

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Shows de 2010 e o rock alternativo na minha vida

Enfim terminou a temporada de shows de 2010, pelo menos para mim. Alguns meses de tensão e expectativa, mas tudo realizado maravilhosamente bem conforme planejado. Tirando a performance do Phoenix que conseguiu me encantar também por conta da interatividade do vocalista com o público, todos os outros shows tiveram um impacto especial muito por conta das lembranças da época em que muitas dessa bandas inspiravam minha vida.





Por exemplo, falar de Smashing Pumpkings me remete à época do colegial, quando o rock começava a ter uma importância maior para mim. Posso dizer que 1979 está na minha lista de músicas mais marcantes de todos os tempos, muito porque trazia um pouco do universo indie que logo depois entraria de cabeça. Tudo numa época em que era difícil achar música boa nas rádios, tempos em que o jabá era que comandava a programação.






Belle & Sebastian e Yo La Tengo já me remetem à época da faculdade, em que a leitura de jornais servia como uma maneira mais fácil de conhecer novas músicas, já que as rádios ainda eram resignadas em tocar algo mais independente nas rádios. Lembro que foi numa época em que fazia estágio na VR, que controlava a Trama, gravadora que apoiava diversos artistas nacionais e lançava vários discos de bandas alternativas que dificilmente teriam lançamentos no Brasil. Lembro que como estagiário conseguia desconto nos cds. Numa tacada só, comprei um monte de discos dessas bandas, que passaram a comandar a programação do meu dial. Foi legal ver no sábado o Kid Vinil apresentando as bandas no festival. Esse foi um dos caras que eu mais pegava dicas de bandas, já que na época ele comandava o Lado B na MTV e a programação da Brasil 2000, além de ser diretor artístico da Trama.





Já Air é uma influência direta do Adriano, que durante nossas viagens a partir do final da faculdade sempre punha o disco Moon Safári. Eu que sempre achava que eletrônico não era pra mim, me rendia para aquelas melodias densas mas ao mesmo tempo tão belas. Nessa época era o mp3 que já comandava minha vida, e foi fácil conhecer muitos discos deles. Ter visto Virgens Suicidas, com a trilha sonora deles me fez ver de como era legal um filme que privilegiava uma trilha sonora diferenciada.





Já Phoenix e Of Montreal me remetem há coisa de 5 anos atrás, época que conheci a Ju, em que as rádios digitais começaram a rolar por nossas bandas. Durante muito tempo comecei a ouvir a Woxy, dica do maleta do Álvaro Pereira Jr, que apesar disso, de vez em quando passava ótimas dicas. Logo de cara me interessei muito por Phoenix e Of Montreal, que agora, alguns anos depois, conseguem emocionar milhares de pessoas no Planeta Terra.





Mas a descoberta mais inesquecível mesmo do indie rock, que teve uma importância ímpar na minha vida, assim como Demian teve para Sinclair, foi quando tinha 14 anos. Estava num momento turbulento na minha adolescência, meio que isolado, num meio de um monte de gente que não gostava. De repente, mudo de período na escola e volto a ter amizade com os Gêmeos, considerados os loucos da rua. De repente ser o melhor da classe basicamente deixou ter importância. Estar com meus amigos era a coisa mais importante daquela época. Viajar com eles e um monte de outros amigos pra Ubatuba era o que agora me importava. De repente, nas tardes pós praia, junto às leituras de Bizz e revistas de Surf, os Gêmeos, mesmo curtindo baladinha, me vinham com alguma coisa vinda dos irmãos mais velhos deles, apaixonados por rock. Foi lá que descobri uma música bem diferente do que ouvia em SP, sei lá, menos urbana, mais próxima de low-fi. Um som de praia. Foi lá que descobri Paralamas de uma maneira tão intensa como naquele disco Arquivo. No ano seguinte, acho que já com 16, de repente, meus amigos me mostram Hey, Gounge Away e Monkeys gone to Heaven. Quando comecei a prestar atenção naquela melodia de Hey, me senti assim como o Bucha disse tempos atrás. Os caras tocavam um tipo de som que não sei porque se encaixava perfeitamente com aquilo que eu queria ouvir.






Nessa mesma época em Ubatuba conhecemos uma outra galera que curtia rock e Pixies também. Eu, como sempre curioso, pergunto pra eles o que havia de parecido com Pixies. Eles me falam de Pavement. Já no ano seguinte, no curto período que trabalhei numa locadora de CD, descubro o disco que tinha Cut your Hair do Pavement, junto com Nada Surf e Weezer. Sim em 97 já sabia do que gostava. Tudo que veio após pra mim meio que tinha que se encaixar nesse rock melódico de guitarras no talo que de repente descubro nas bandas indies americana. O resto é resto.


sábado, 6 de novembro de 2010

Outubro Intenso

Após uma semana pós feriado de muito sol aqui no Rio, temos novamente um sábado chuvoso por aqui. Enfim estou em casa tranqüilo. Momento pra lembrar que há tempos não posto nada no blog. Infelizmente não consegui postar a tempo um texto sobre o Pixies, por conta da vinda do show deles no SWU, que foi inesquecível, da mesma maneira quando eles vieram em 2004 e que foi tão importante naquele momento da minha vida. Meses depois daquele show, largava o mestrado e descobriria os encantos do Sul e do Planalto Central.

Espero futuramente falar mais sobre o Pixies, talvez a banda mais importante da minha vida. Enquanto isso, ponho pra tocar La la love you, o som que mais me marcou naquela noite de Itu...





Além do SWU, praticamente viajei todo fim de semana, muito por conta dos feriados, mas também em razão de algumas confraternizações com os amigos, como o casamento do Carlinhos e a reunião da turma da velha guarda em Atibaia. Também esse tempo foi marcado por algumas visitas no meu ap, bom pra sair pelos bares do Lapa e Botafogo, além de tomar umas com as visitas em casa. Nesse meio tempo passei um fim de semana em Ilha Grande. Muito bom a vilinha de Abrãao à noite.


Tempos de eleição e me surpreendi com as manifestações de preferência de voto na internet, e que muito me decepcionou sobre o nível educacional dos muitos que participam na rede. Me envolvi nas discussões a respeito da questão do aborto, sustentabilidade, privatizações, papel do Estado e da Igreja, evangélicos, Tropa de Elite.

Tempos que foi legal sair 2 sextas em Sampa com Alex, Diogo, Playmobil, Bucha e Paulão. Bom sentir como a cena musical paulistana está quente e com tanto som bom rolando lá pelo Baixo Augusta, com Tapas e Talco Bells. Algo tão cosmopolita que poderia ta rolando em qualquer lugar do Mundo. Também foi muito bom beber e conversar com amigos que fazia tempo que não ficava até a madrugada, como foi no feriado em SP quando troquei altos papos com minha irmã, Celso e Ju. Numa das outras madrugadas, com muita cerveja, falei sobre yoga e budismo com o Mequetrefe, amigo das antigas, do violão, que há tempos não via e foi resgatado pelo Edu. Numa hora ele me fez acompanhar seu gesto que me lembrou do desenho que Sinclair ganhou de Sidarta, nome do livro que li nesse ano que tanto me trouxe inspiração de vida. Aproveito pra por a música daquela noite, que consegui fazer um solo magistroso, e me deu vontade de me envolver novamente com o violão. Mapa do Meu Nada, Cássia Eller.

Doido desejo chupando dedo num beco
cheio de bêbados trêbados
Chutando os prédios, pregando prego no prego
Réu da razão, do suplico, cuspe fútil
Nessa estrada cariada
Só você é o meio-fio de luz
Contramão sinalizada
No mapa do meu nada
Canção emocionada
Trajeto por teus fios







Em diversas dessas conversas veio a tona o momento do meu questionamento sobre algumas coisas na minha vida, como a tensão do meu trabalho e a solidão do Rio. Parece uma energia saltando de mim, que já não aceita mais o mundo kafkaniano que parece que me meti. Burocracia, conservadorismo, superficialidade, estabilidade, individualismo. Fazer coisas que eu não gosto, só porque alguém mandou, como diz a música Sapato 36, que toquei na festa de Atibaia e que fez muito sucesso por lá, talvez por conta da presença do meu pai naquele momento, no meio de tantos jovens de 30 e 40 anos...Inclusive toquei essa música por conta do bar que eu fui na Lapa em que pedi pra Tocar Raul e os caras me vieram com esse som, mais Meu Amigo Pedro e SOS.


Pai eu já tô crescidinho
Pague prá ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
E andar do jeito que eu gosto
Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade








E olha que coincidência. Presto atenção na letra de um som rolando na vitrola. Outro sonzasso da Gal que descobri há pouco tempo:

Pois agora vou recomeçar
E daqui pra frente eu vou mudar





Aproveito para por o som Meu nome é Gal, que tocava enquanto escrevia esse post. Admiro todos eles também:

“Meu nome é Gal, tenho 24 anos
Nasci na Barra Avenida, Bahia
Todo dia eu sonho alguém pra mim
Acredito em Deus, gosto de baile, cinema
Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo,
Macalé, Paulinho da Viola, Lanny,
Rogério Sganzerla, Jorge Ben, Rogério Duprat,
Waly, Dircinho, Nando,
E o pessoal da pesada
E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar
Não precisa sobrenome
Pois é o amor que faz o homem."


sábado, 18 de setembro de 2010

Gal Fatal 2 - Jards Macalé e, Bruxelas






No primeiro post sobre o Disco Gal Fatal, termino falando a respeito de uma música de Jards Macalés, Mal Secreto, que descobri apenas esse ano, mas tem me encantado tanto como diversas outras músicas desse disco. Descobri Macalé após uma entrevista que li na revista Rolling Stones enquanto estava no trajeto de trem de Bruges pra Bruxelas em junho desse ano. Na reportagem, Jards Macalé conta de sua viagem para Londres numa visita a Gil e Caetano durante o exílio e seu primeiro contato com o mundo lisérgico dos festivais da Inglaterra daquela época. Claro que essa reportagem fala a respeito do disco Gal Fa-tal, na qual Jards Macalé tem grande participação.





Não sei porque também, foi em Bruxelas o lugar que mais escutei música brasileira nesses últimos tempos, por conta da sensação de brasilidade dessa cidade, talvez por sua arquitetura decadente e suas ruas desordenadas da Cidade Baixa, que me remeteu a Bela Vista em São Paulo. Uma antítese urbanística de Paris, apesar da influência francesa nos palácios e jardins da cidade. Essa lembrança do Brasil também pode ter sido por conta da enorme influência africana em Bruxelas, assim como por conta dos prédios espelhados da cidade alta, muito parecida com a modernidade que encontramos na nova região econômica de SP.








Também acho que ajudou a me encantar por esse disco, o fato de no dia anterior ter entrado pro jogo do Mario Bros, o que intensificou meu encontro com surrealismo de Magrite e outras belas artes flamengas. Escutei esse disco da Gal sob todas essas influências. Talvez por conta do ambiente e momento de sua descoberta, o disco acaba tendo uma importância ímpar, assim como foi com o disco Ben, que escutei suas músicas pela primeira vez com uma turma de violeiros em frente a uma das igrejas de Ouro Preto.







Jards Macalé tem outras 2 músicas nesse disco. Vapor Barato já conhecia, é famosa na versão do Rappa, que nunca achei nada demais. Mas no disco da Gal parece que ela tem seu valor sim. Ontem, na Casa da Matriz, tocou a versão do Rappa. Foi mais legal ouvir essa música depois de me acostumar com a versão de Gal...é bom ouvir e cantar o trecho “Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus...”






Já em Hotel das Estrelas, como Mal Secreto, parece que esse som foi criado tudo sob a influência de Londres, de Jimi Hendrix. O baixo começa, silenciosamente. É um blues. Lento... E o refrão é bem animado, bem ao estilo dos Mutantes.





“Olhar a cidade me acalma... Rio e também posso chorar...”