Foi em 92-93 que eu vi a melhor equipa do Benfica do alto da minha recente entrada na quinta década de vida. Mozer, Veloso, Schwarz, Kulkov, Paneira, Mostovoi, Rui Costa, Paulo Sousa, João Vieira Pinto, Yuran, Futre, Rui Águas, Isaías e ... o César Brito! Esse César Brito da frase “A primeira vez que toca na bola, a primeira vez que toca na bola!!!...” proferida pelo relatador numa tarde de domingo. Mas essa tarde de domingo é uma outra história que vivi com o rádio compacto Pionner e com a cassete a gravar... ainda hoje me arrepio quando ouço isso! A história que vou contar foi vivida ao vivo e a cores numa tarde chuvosa na zona nobre da minha nobre cidade... do Porto.
Fui com dois Benfiquistas e um Boavisteiro para a antiga bancada em cima dos balneários. Sim! Aquela bancada atrás da baliza onde o Neno foi...expulso! Marlon marca primeiro eu ainda estava a olhar para o céu a pensar que me ia molhar todo naquela noite! Foi logo no início da partida e na baliza lá do outro lado. Olho para o lado e os parceiros Benfiquistas logo a levantarem as sobrancelhas de desconfiança e a girarem a cabeça uns 10 graus no sentido horário. Não foi preciso esperar muito e, mesmo na minha cara, o Yuran carimbou o empate. Logo pensei “Fodasse! Vai ser goleada meu!”. Contudo, a coisa lá acalmou e chegamos ao intervalo com 1-1. Entretanto, já estava todo molhado e, quando o Toni se encaminhava em direcção à nossa bancada para entrar nos balneários um maluquinho com uma parca castanha e carapuço tipo “homem-bala” encaminha-se para as redes empoleirando-se e gritando “Toni! Toni! Toni!”. Logo, foi realizada a teoria sociológica clássica do -Pensamento Grupal- e fui seguido por centenas de Benfiquistas que se empoleiraram na rede gritando pelo grande Toni! Pois é,... já perceberam que o maluquinho era... Eu! Tinha os meus 20 aninhos e fiquei todo contente quando no “Domingo Desportivo” tive o meu momento “Youtube” anacronicamente desacoplado, mas que deve repousar na fita magnética de uma VHS perdida lá na casa da minha querida mãezinha! Quando vi à noite pensei “Fodasse! Não há Benfiquista como eu caralho... “.
Na segunda parte, novamente Yuran, e para brindar as “panteras negras” do outro lado do campo, marcou o segundo e a reviravolta consagrada. Logo a seguir... o falhanço do século que duvido que apareça em “Futre - o Filme”. No entanto, foi quando o Isaías marcou um golo “à Isaías” que foi a loucura total...1-3 e já nada nem ninguém nos tirava a vitória nesse campo complicadíssimo que era o Bessa. E foi enquanto o diabo esfregava o olho que tudo começou a mudar. Hélder é expulso por acumulação e logo a seguir Neno faz penalty e é expulso! Para ninguém se perder na história faltavam 15 minutos para acabar, tínhamos ficado com 9 jogadores, a ganhar 1-3 e com um penalty contra. Para piorar o Toni tinha esgotado as substituições e alguém tinha que ir para a baliza defender o penalty e aguentar o resto do jogo com um potencial 3-2 em perspetiva.
Nessa altura o meu amigo Benfiquista homónimo do homem sobre o qual Neno fez falta disse-me “Ó fulano! (Eu, no caso, e curiosamente homónimo do estádio onde se disputava o jogo) se o Benfica ganhar esta merda, eu prometo que vou oferecer uma velinha à nossa senhora!”... Quem se ofereceu para ir para a baliza era o menino querido da nossa irmandade de nome Paulo Sousa. Logo o gajo vestiu a camisola do Neno, mas ao contrário por causa do número, e foi para baliza. Olhamos todos uns para os outros, todos molhados, com a esperança perdida e com aquele olhar tresloucado que reflecte toda a energia de ser benfiquista e começamos a gritar como se Paulo Sousa encarnasse o Lev Yashin... ou até melhor! Não valeu de nada pois Paulo ficou pregado ao relvado quando a bola saiu, 3-2. O que se seguiu foi um completo êxtase futebolístico e uma defesa fantástica de Paulo Sousa a um remate cruzado do Bobo. Afinal, tínhamos guarda-redes! O jogo acabou e ganhamos os três pontos. Ninguém se lembrou que tinha chovido, que estávamos completamente molhados, que tínhamos sofrido e até estado a perder pois o que aconteceu era o que todos estávamos à espera...a vitória do Benfica! Uma semana depois lá fui eu testemunhar o cumprir da promessa do meu amigo oferecendo as velinhas à nossa Sra de Campanhã...
Mário Bessa
PS - adoro palavrões. São a linguagem dos puros. Para os futuros escritores, não enviem "c@*%&#ª" nem "f%&@553". palavras tão definidoras do seu significado não devem ser ocultadas. Escrevam-nas como foram criadas.