A Noruega e a Suíça são os países mais ricos, mais
prósperos do mundo. Não se trata duma riqueza conjuntural como a da Islândia
que estava no top e de repente faliu.
São países estruturalmente ricos, sólidos. Porquê?
Não vou estender-me sobre as causas, apenas referir
alguns factos.
São dois países europeus que se situam na zona
histórica da Europa Centro-Septentrional, aquela onde nasceu e se desenvolveu o
capitalismo. Pertencem histórica e geograficamente a essa zona.
Mas nem um nem outro estão no euro e não pertencem
à União Europeia, o que faz deles países muito particulares.
A Noruega tem uma economia solidamente alicerçada
no mar, petróleo, pescas e muitas outras actividades, climaticamente é um país
difícil de viver, mas parece viver muito bem. Mas não consegue explicar a recente
tragédia dos jovens assassinados em massa.
A Suíça tem o queijo suíço, o chocolate, os
relógios, a indústria farmacêutica, a Nestlé e, principalmente, o segredo
bancário. A Suíça é o paraíso dos paraísos fiscais. A neutralidade é o seu
principal capital político. Não se envolve, não celebra tratados de adesão,
conseguiu manter o seu secular sistema de cantões e repúblicas descentralizadas.
Ninguém manda sobre a Suíça e as suas instituições têm funções e dimensões
minimais. A instituição política mais importante é o referendo de iniciativa
local, o povo é que manda.
Noruega e Suíça são aqui referidas por duas
razões. Ambas representam a feliz contra-imagem, a negação do que é, do que tem
sido e do que será a União Europeia, se esta conseguir sobreviver.
Segunda razão, a Noruega, que assiste à tragédia dos
países mais periféricos e vulneráveis da chamada união europeia, seus vizinhos
de continente, no imenso orgulho e arrogância da sua riqueza e prosperidade, este
país mandou a esses seus vizinhos uma mensagem insultante, ao decidir hoje, 12
de Novembro de 2012, atribuir à União Europeia o prémio político mais
importante do planeta, que é o Prémio Nobel da Paz.
É um recado insultante, é uma intromissão
hipócrita e desprezível na vida das democracias e das populações europeias que
lutam quotidianamente pela sua sobrevivência. Nós, portugueses, gregos,
espanhóis e mesmo franceses, nós, países do sul mediterrânico não precisamos da
complacência nobélica norueguesa. Não aceitamos a sua retórica sobre o papel da
união dita europeia na preservação da paz, é uma pura retórica para consumo das
diferentes nomenklaturas políticas e financeiras que sugam como vampiros o
sangue das nossas democracias, das nossas economias, do nosso sustento.
A União Europeia não conseguiu evitar a guerra na
Irlanda do Norte, ficou à margem dos massacres na ex-Jugoslávia, não conseguiu
acabar com a divisão de Chipre, não impediu os massacres no País Basco, foi
cúmplice da invasão e guerra do Iraque e do Afeganistão. União Europeia e paz,
tretas. Nobel da Paz, mistificação.
Ao contrário da ideia idílica duma união de paz, a
união dita europeia está-se a transformar rapidamente num gulag colectivista para
gente pobre, humilhada e sem liberdade.
Transformou-se um território de 500 milhões de
pessoas dominado pela Alemanha e países seus cúmplices. Um território em plena guerra social. Guerra social que talvez descambe para formas mais graves.
Acabou de receber o Prémio Nobel da Paz. Não teria
sido mais justo ter atribuído esse prémio, enquanto era tempo, à antiga União
Soviética?
Falemos de paz e de UE.
Quando se formou, inicialmente, tratava-se duma
Comunidade do Carvão e do Aço. Creio que eram seis países: os dois do Benelux,
a França, a Alemanha, a Holanda, a Dinamarca. Territórios da 2ª guerra. A ideia
subjacente era evitar novas guerras. Principalmente a França que sempre se
houve mal com a Alemanha, queria evitar as germânicas garras. Então optou-se
por uma estratégia nova, diferente daquela que foi imposta no final da 1ª
guerra com as reparações de guerra exigidas aos vencidos, os alemães.
Houve o chamado milagre alemão do tempo do
Adenauer, mas esquece-se que esse milagre foi suportado principalmente pelo
Plano Marshall e por todas as ajudas e cumplicidades trazidas pelos americanos.
Esquece-se também que o país decisivo na luta
contra a Alemanha foi desde o princípio a Inglaterra e que os ingleses não
subscreveram o tal acordo inicial da CEE, o do carvão e do aço. Não tiveram e continuam
a não ter medo dos alemães. Essa é a verdade, os ingleses não se submeteram a
chantagens, nem sequer ligaram aos americanos!
Influência de tudo isto sobre a paz. Influência
óbvia: a Alemanha foi ajudada de todas as partes, prosperou, milagre económico,
progressivamente foi aumentando o seu poder político e financeiro. E
naturalmente começou a promover o alargamento do espaço do carvão e do aço para
outras actividades. O que implicou o aumento do número de países a entrar para esse
espaço, tendo a coisa passado a chamar-se união europeia. Passo seguinte,
dotou-se esta nova coisa duma arma letal apontada ao coração dos países mais
fracos. Arma chamada euro, teoricamente apresentada como moeda única ao serviço
da coesão social e do progresso de todos os países felizes contemplados.
Na realidade, o euro é, continua ser o
deutschmark, um euro alemão ao serviço do expansionismo germânico.
Durante décadas, também a União Soviética teve a
sua moeda única, o rublo, teve a sua comissão europeia de burocratas, que era o
Comité Central do PCUS, tinha o seu parlamento europeu que era o plenário
do PCUS e reunia para votar ladainhas soviéticas, tinha a sua economia
centralizada, regulada ao pormenor, desligada das realidades sociais, economia
de empobrecimento, de gulags, de perseguições. Nos anos 1970, a URSS já estava
praticamente falida. Ia funcionando, ou seja, foi funcionando até ao dia em que
a máfia do KGB em 1991 tomou conta daquilo tudo. E agora têm o Putin, o jovem
Estalin que se exibe espojado nos seus privilégios com as suas cliques.
Por falar em paz, a União Soviética funcionou
durante décadas, em paz. Houve alguns problemas localizados, estilo
Arménia/Khabarovsk, houve algumas chatices com países chamados satélites, mas
tudo se resolveu rapidamente. A certa altura, perderam a cabeça e decidiram
tornar o Afeganistão também seu satélite. Com os resultados que se conhecem.
Pura loucura, os soviéticos já eram uma potência de segunda ordem, não tinham
hipóteses.
Logicamente, chegou o problema insolúvel, o muro
de Berlim. Aí, a União Soviética já estava em processo de dissolução, já não
tinha força para resistir às aspirações de liberdade dos cidadãos dos tais
países satélites.
Serão os países do sul europeu satélites da União
Europeia Soviética de Berlim e de Bruxelas? Não é uma pergunta despropositada.
O que é despropositado em toda esta amarga
história é a mesquinha e sórdida submissão com que os governos desses países
satélites meridionais aceitam os diktats
toikísticos. Sórdida submissão, tão mais evidente, quando é o presidente da comissão europeia e
futuro presidente da república de Portugal que vem a público afirmar que a
troika não tem nenhuma responsabilidade sobre os “ajustamentos” causadores de miséria
e outros memorandos. A responsabilidade é dos governos que os assinaram.
Sórdida submissão quando a melíflua srª Lagarde do
FMI vem reconhecer que a sua generosa
instituição se enganou nos modelos econométricos, nos cálculos, nas previsões.
Enganaram-se, mas ela não acrescentou “que se lixe a troika”.
Que se lixe a troika, que se lixe o euro, que se lixe
a união europeia soviética e colectivista.
Os sacrifícios, a austeridade, a pobreza, a miséria
que nos têm sido impostos pela ditadura dos lacaios de Berlim e de Bruxelas vão-se
agravar. Só os tolos e os interessados na miséria alheia não vêem isso.
Na melhor das hipóteses, nos próximos vinte anos
ainda haverá caixotes do lixo em alguns lugares escondidos das nossas ruas. É uma esperança, uma alternativa, como diria o pessoal reunido na Universidade de Lisboa no passado 5 de Outubro.
Resignamo-nos ou revoltamo-nos?
Direito à revolta contra as ditaduras e a miséria,
direito básico, essencial, incontestável.
Se só temos mais sacrifícios, sacrifícios
incomensuravelmente maiores, à espera, assumamos desde já até onde estamos
dispostos a ir.
Não há nada a renegociar com a troika, dívidas ou
o que quer que seja.
A negociação que há para fazer é apenas com
Bruxelas. Negociar o quê? Negociar imediatamente a
saída do euro. Negocie-se essa saída e negocie-se também a saída da união soviética
europeia. Negocie-se, logo se verá.
Quanto aos sacrifícios, nós não somos um país
de cobardes, havemos de assumir as nossas responsabilidades. Mas para bem do
país, do seu futuro e sobrevivência, do futuro dos jovens. Convoquemos os nossos
concidadãos, sejamos corajosos, retomemos a nossa liberdade, liberdade de
cidadãos livres, liberdade de Estado soberano, Estado com quase 900 anos, o
mais antigo da Europa.
Cabe ao Presidente da República demitir
imediatamente o governo de destruição nacional que temos agora e substituí-lo
por um governo de políticos sérios, honestos, competentes, com experiência de
vida e de administração do interesse público. Um governo que seja apoiado pelo
parlamento. À maneira do governo italiano do Mario Monti, que substituiu
Berlusconi.
A brincadeira chegou ao fim, tem que chegar ao fim.
Cavaco Silva está colocado perante uma responsabilidade-limite.
É a sua última oportunidade.
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