PEDALAR É PRECISO!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PRÉMIO NOBEL DA PAZ DOS CEMITÉRIOS

 

A Noruega e a Suíça são os países mais ricos, mais prósperos do mundo. Não se trata duma riqueza conjuntural como a da Islândia que estava no top e de repente faliu.

São países estruturalmente ricos, sólidos. Porquê?

Não vou estender-me sobre as causas, apenas referir alguns factos.

São dois países europeus que se situam na zona histórica da Europa Centro-Septentrional, aquela onde nasceu e se desenvolveu o capitalismo. Pertencem histórica e geograficamente a essa zona.

Mas nem um nem outro estão no euro e não pertencem à União Europeia, o que faz deles países muito particulares.

A Noruega tem uma economia solidamente alicerçada no mar, petróleo, pescas e muitas outras actividades, climaticamente é um país difícil de viver, mas parece viver muito bem. Mas não consegue explicar a recente tragédia dos jovens assassinados em massa.

A Suíça tem o queijo suíço, o chocolate, os relógios, a indústria farmacêutica, a Nestlé e, principalmente, o segredo bancário. A Suíça é o paraíso dos paraísos fiscais. A neutralidade é o seu principal capital político. Não se envolve, não celebra tratados de adesão, conseguiu manter o seu secular sistema de cantões e repúblicas descentralizadas. Ninguém manda sobre a Suíça e as suas instituições têm funções e dimensões minimais. A instituição política mais importante é o referendo de iniciativa local, o povo é que manda.

Noruega e Suíça são aqui referidas por duas razões. Ambas representam a feliz contra-imagem, a negação do que é, do que tem sido e do que será a União Europeia, se esta conseguir sobreviver.

Segunda razão, a Noruega, que assiste à tragédia dos países mais periféricos e vulneráveis da chamada união europeia, seus vizinhos de continente, no imenso orgulho e arrogância da sua riqueza e prosperidade, este país mandou a esses seus vizinhos uma mensagem insultante, ao decidir hoje, 12 de Novembro de 2012, atribuir à União Europeia o prémio político mais importante do planeta, que é o Prémio Nobel da Paz.

É um recado insultante, é uma intromissão hipócrita e desprezível na vida das democracias e das populações europeias que lutam quotidianamente pela sua sobrevivência. Nós, portugueses, gregos, espanhóis e mesmo franceses, nós, países do sul mediterrânico não precisamos da complacência nobélica norueguesa. Não aceitamos a sua retórica sobre o papel da união dita europeia na preservação da paz, é uma pura retórica para consumo das diferentes nomenklaturas políticas e financeiras que sugam como vampiros o sangue das nossas democracias, das nossas economias, do nosso sustento.

A União Europeia não conseguiu evitar a guerra na Irlanda do Norte, ficou à margem dos massacres na ex-Jugoslávia, não conseguiu acabar com a divisão de Chipre, não impediu os massacres no País Basco, foi cúmplice da invasão e guerra do Iraque e do Afeganistão. União Europeia e paz, tretas. Nobel da Paz, mistificação.

Ao contrário da ideia idílica duma união de paz, a união dita europeia está-se a transformar rapidamente num gulag colectivista para gente pobre, humilhada e sem liberdade.

Transformou-se um território de 500 milhões de pessoas dominado pela Alemanha e países seus cúmplices. Um território em plena guerra social. Guerra social que talvez descambe para formas mais graves.

Acabou de receber o Prémio Nobel da Paz. Não teria sido mais justo ter atribuído esse prémio, enquanto era tempo, à antiga União Soviética?

Falemos de paz e de UE.

Quando se formou, inicialmente, tratava-se duma Comunidade do Carvão e do Aço. Creio que eram seis países: os dois do Benelux, a França, a Alemanha, a Holanda, a Dinamarca. Territórios da 2ª guerra. A ideia subjacente era evitar novas guerras. Principalmente a França que sempre se houve mal com a Alemanha, queria evitar as germânicas garras. Então optou-se por uma estratégia nova, diferente daquela que foi imposta no final da 1ª guerra com as reparações de guerra exigidas aos vencidos, os alemães.

Houve o chamado milagre alemão do tempo do Adenauer, mas esquece-se que esse milagre foi suportado principalmente pelo Plano Marshall e por todas as ajudas e cumplicidades trazidas pelos americanos.

Esquece-se também que o país decisivo na luta contra a Alemanha foi desde o princípio a Inglaterra e que os ingleses não subscreveram o tal acordo inicial da CEE, o do carvão e do aço. Não tiveram e continuam a não ter medo dos alemães. Essa é a verdade, os ingleses não se submeteram a chantagens, nem sequer ligaram aos americanos!

Influência de tudo isto sobre a paz. Influência óbvia: a Alemanha foi ajudada de todas as partes, prosperou, milagre económico, progressivamente foi aumentando o seu poder político e financeiro. E naturalmente começou a promover o alargamento do espaço do carvão e do aço para outras actividades. O que implicou o aumento do número de países a entrar para esse espaço, tendo a coisa passado a chamar-se união europeia. Passo seguinte, dotou-se esta nova coisa duma arma letal apontada ao coração dos países mais fracos. Arma chamada euro, teoricamente apresentada como moeda única ao serviço da coesão social e do progresso de todos os países felizes contemplados.

Na realidade, o euro é, continua ser o deutschmark, um euro alemão ao serviço do expansionismo germânico.

Durante décadas, também a União Soviética teve a sua moeda única, o rublo, teve a sua comissão europeia de burocratas, que era o Comité Central do PCUS, tinha o seu parlamento europeu que era o plenário do PCUS e reunia para votar ladainhas soviéticas, tinha a sua economia centralizada, regulada ao pormenor, desligada das realidades sociais, economia de empobrecimento, de gulags, de perseguições. Nos anos 1970, a URSS já estava praticamente falida. Ia funcionando, ou seja, foi funcionando até ao dia em que a máfia do KGB em 1991 tomou conta daquilo tudo. E agora têm o Putin, o jovem Estalin que se exibe espojado nos seus privilégios com as suas cliques.

Por falar em paz, a União Soviética funcionou durante décadas, em paz. Houve alguns problemas localizados, estilo Arménia/Khabarovsk, houve algumas chatices com países chamados satélites, mas tudo se resolveu rapidamente. A certa altura, perderam a cabeça e decidiram tornar o Afeganistão também seu satélite. Com os resultados que se conhecem. Pura loucura, os soviéticos já eram uma potência de segunda ordem, não tinham hipóteses.

Logicamente, chegou o problema insolúvel, o muro de Berlim. Aí, a União Soviética já estava em processo de dissolução, já não tinha força para resistir às aspirações de liberdade dos cidadãos dos tais países satélites.

Serão os países do sul europeu satélites da União Europeia Soviética de Berlim e de Bruxelas? Não é uma pergunta despropositada.

O que é despropositado em toda esta amarga história é a mesquinha e sórdida submissão com que os governos desses países satélites meridionais  aceitam os diktats toikísticos. Sórdida submissão, tão mais evidente,  quando é o presidente da comissão europeia e futuro presidente da república de Portugal que vem a público afirmar que a troika não tem nenhuma responsabilidade sobre os “ajustamentos” causadores de miséria e outros memorandos. A responsabilidade é dos governos que os assinaram.

Sórdida submissão quando a melíflua srª Lagarde do FMI vem reconhecer que  a sua generosa instituição se enganou nos modelos econométricos, nos cálculos, nas previsões. Enganaram-se, mas ela não acrescentou “que se lixe a troika”.

Que se lixe a troika, que se lixe o euro, que se lixe a união europeia soviética e colectivista.

Os sacrifícios, a austeridade, a pobreza, a miséria que nos têm sido impostos pela ditadura dos lacaios de Berlim e de Bruxelas vão-se agravar. Só os tolos e os interessados na miséria alheia não vêem isso.

Na melhor das hipóteses, nos próximos vinte anos ainda haverá caixotes do lixo em alguns lugares escondidos das nossas ruas. É uma esperança, uma alternativa, como diria o pessoal reunido na Universidade de Lisboa no passado 5 de Outubro.
Resignamo-nos ou revoltamo-nos?

Direito à revolta contra as ditaduras e a miséria, direito básico, essencial, incontestável.

Se só temos mais sacrifícios, sacrifícios incomensuravelmente maiores, à espera, assumamos desde já até onde estamos dispostos a ir.

Não há nada a renegociar com a troika, dívidas ou o que quer que seja.

A negociação que há para fazer é apenas com Bruxelas. Negociar o quê? Negociar imediatamente   a saída do euro. Negocie-se essa saída e  negocie-se também a saída da união soviética europeia. Negocie-se, logo se verá.
Quanto aos sacrifícios, nós não somos um país de cobardes, havemos de assumir as nossas responsabilidades. Mas para bem do país, do seu futuro e sobrevivência, do futuro dos jovens. Convoquemos os nossos concidadãos, sejamos corajosos, retomemos a nossa liberdade, liberdade de cidadãos livres, liberdade de Estado soberano, Estado com quase 900 anos, o mais antigo da Europa.

Cabe ao Presidente da República demitir imediatamente o governo de destruição nacional que temos agora e substituí-lo por um governo de políticos sérios, honestos, competentes, com experiência de vida e de administração do interesse público. Um governo que seja apoiado pelo parlamento. À maneira do governo italiano do Mario Monti, que substituiu Berlusconi.

A brincadeira chegou ao fim, tem que chegar ao fim.

Cavaco Silva está colocado perante uma responsabilidade-limite. É a sua última oportunidade.

 

Sem comentários: