Espanha é o país dos toureiros, Manolete,
Dominguin e outros cujos nomes esqueci.
É o país do flamenco, Camaron de la Isla, Juanito
Valderrama e quantos outros.
A Espanha é a quarta economia europeia, mas entre
os séculos XVI e XVII, foi a primeira potência mundial, dominava a Europa e
quase todos os caminhos que se cruzavam pelo mundo.
A França tem a “grandeur de la France” do De
Gaule, a Inglaterra tem o jubileu da rainha e as memórias de grande potência
pirata e colonial. Tem também a city, o que não é coisa pouca.
A Alemanha tem duas guerras mundiais e muitos
milhões de mortos, torturados e perseguidos.
Todas estas grandezas estão agora a ser
confrontadas com a iminência duma vergonhosa bancarrota, os chineses, os
russos, os brasileiros e outros emergentes dão palmadas na barriga, acaba o
ocidente imperial e colonial, ite, missa est.
Por ordem de grandeza medida de acordo com os
critérios capitalistas actuais, na chamada euro-zona, está em primeiro lugar a Alemanha, a seguir a
França, em terceiro a Itália e em quarto a Espanha.
Isto não é apenas um ranking estilo livro de
records.
É o ranking anunciado do descalabro da união
soviética europeia. Parece que estamos em finais de 1991, quando o Ieltsin
tomou o poder e percebeu que tinha de dissolver a URSS.
Quando a deliquescência do capitalismo atingiu a
Itália, obrigando o poder de Berlim/Bruxelas a pôr a democracia na gaveta e
nomear um funcionário do banco americano Goldman Sachs para presidir ao governo
italiano, só para os profiteurs do costume é que não era óbvio que a engrenagem
criada pelos tratados de Roma e de Maastrich estava a caminho da extinção.
O tsunami da crise da chamada dívida soberana foi
avançando, enquanto a sra. Merkel e o sr. Sarkozy andavam a entreter os incautos
e as vítimas.
Antes, falava-se da Grécia, de Portugal e às vezes
da Irlanda. Passou-se a falar da Itália.
Mas os tsunamis movem-se a alta velocidade e
chegaram rapidamente à Espanha. Próximos destinos? França, Holanda, Áustria,
Alemanha. O último a sair que apague a luz.
A França não tem dinheiro, perdeu a indústria,
foi, aliás neste domínio ultrapassada pela Itália. A Holanda tem trejeitos de
grande potência euro-zona, mas não tem governo, porque não há partidos
preparados para assumir os encargos políticos da austeridade. A Áustria já
começou a ser atacada pelas agências de rating e foi desvalorizada, apesar de
toda a sua arrogância. A Alemanha vai enfrentar uma grave contestação social
por causa dos baixos salários que têm engordado o capitalismo alemão. Os bancos
alemães entraram na mira das famosas agências de rating e alguns foram
desvalorizados. A Alemanha destruiu a economia dos países europeus do sul e vai
deixar de ter parceiros para os seus chorudos negócios.
No meio de tudo isto, não se pode perder de vista
que os únicos países que estão a captar dinheiro e investimentos são os que não
têm nada a ver com o euro. A Suiça e os países nórdicos é uma cena já
conhecida. A principal novidade é que nas últimas semanas tem crescido o movimento
de capitais para o Reino Unido, movimento que tem origem em vários países da
euro-zona, principalmente da Grécia. A libra esterlina é um porto de abrigo e
não é relevante para a situação financeira internacional que os ingleses
estejam a viver cada vez pior. Money is Money.
Abreviemos.
A Grécia está falida, Portugal e a Irlanda também.
À Itália vale-lhe que a maior parte da dívida do Estado esteja nas mãos de
aforradores italianos. Quanto à Espanha, end of the road, a Espanha não tem
qualquer alternativa.
O Rajoy não sabe o que é que há-de fazer com os
bancos espanhóis, estão falidos. Não é apenas o Bankia. Quer que a UE abasteça
esses bancos falidos. Quer que a UE assuma as responsabilidades, porque o governo
espanhol não tem a coragem de pedir o tal de resgaste troikiano, que nós, os
gregos e os irlandeses tivemos de pedir.
Não tem coragem porquê? É simples: se pedir, vai
ter uma guerra civil, com milhões de pessoas na rua. Para guerra civil já bastou
o que bastou.
Principalmente, não se trata duma guerra civil
propriamente dita, é mais uma guerra europeia, uma guerra que não tem a ver com
motivos ideológicos. Trata-se tão somente de dinheiro, guerra financeira, guerra
manipulada pelo Goldman Sachs e os seus compinchas.
É o capital desenfreado e sem quaisquer escrúpulos
que quer ganhar cada vez mais dinheiro. Não é o Hitler nem o Estaline, esses ao
menos sabia-se quem eram.
Agora é muito pior, quem comanda é uma poderosa nebulosa
de altos interesses que ninguém, em nome da democracia, conseguirá controlar.
Venham então os toureiros.
Venham milhões para a rua.
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