Há um tipo que veio ontem a Portugal, o homem é prémio Nobel da economia e em Lisboa recebeu uma tripla condecoração, a de doutor honoris causa, condecoração atribuída por três universidades de Lisboa, a clássica (que, aliás, não tem faculdade de economia), a técnica e a nova.
Estavam todos babados os doutores catedráticos dessas três faustosas universidades. Até lá estava no meio daquele pagode, completamente radiante no seu fato folclórico de doutor, aquele tipo o Braga de Macedo de triste memória que, se ainda se lembram, proclamou que Portugal era um oásis, isto no tempo do Prof. Cavaco primeiro-ministro.
Este Braga de Macedo e a maioria de todos os que lá estavam na cerimónia são da escola neo-liberal, diria mais, são apóstolos confessos desse criminoso credo que deu cabo, desde os tempos frenéticos dos boys de Chicago e do seu padrinho, o mentiroso e conspirador confesso, Richard Nixon, que deu cabo de vários países, o primeiro dos quais foi o Chile do Pinochet e um dos últimos foi a Argentina que, aliás, ainda não está inteiramente livre das retorsões e ameaças de várias altas instituições do capitalismo.
Este grupo de neo-liberais confessos que não posso designar de criminosos porque ainda foram presentes diante dum tribunal competente para os julgar por todos os crimes que há duas ou três décadas, mais coisa menos coisa, têm andado a praticar neste país de gente que se baba facilmente perante um prémio Nobel qualquer, este grupo tem como actividade desportiva preferida exibir-se em toda a sua provinciana glória diante da televisão e dos jornalistas e tem como actividade principal retirar proveitos chorudos dos conselhos de administração, dos conselhos gerais, das comissões para isto e para aquilo onde é suposto tomarem decisões que promovam o bem-estar e o progresso do país.
Essa gente é uma quadrilha.
Essa gente trouxe cá o Krugman que lá na terra dele passa por um perigoso esquerdista. Trouxe-o para que este tipo venha dizer aos jornais e às televisões que Portugal não é a Grécia, Portugal é um país porreiro, já cá esteve em 1976, ele conhece isto bem. Portugal não vai sair do euro, as probabilidades para que tal aconteça são de 25%.
Mas Portugal, insistiu o prémio Nobel, Portugal vai ter que cortar nos salários.
Ò Krugman, parece que és um grande economista e vens, do alto da tua autoridade, dizer aqui a este país que tem os salários mais baixos da Europa, salários que são mais baixos do que os da Grécia, a este país das parcerias público-privadas, que servem para garantir que os lucros são para os privados e os prejuízos para o Estado, a este país onde os bancos praticamente não pagam impostos e que, em troca, recebem do Estado altíssimas prebendas, ò Krugman vens para aqui dar as tuas sentenças, as tuas postas de pescada, só por que houve três universidades lisboetas que resolveram premiar-te com três doutoramentos honoris causa em simultâneo!
Vens aqui dizer em alto e bom som que Portugal tem que cortar nos salários, porque se não cortar vai ter que sair do euro!
Ò Krugman, shame on you, ò Krugman vai meter o euro num certo sítio!!!
Economistas portugueses encartados, catedráticos ou não, ignorantes quase certamente, situacionistas ou não, carreiristas, oportunistas, salteadores do bem público ou não, tenham vergonha! Precisam de mandar vir um economista americano dizer ao país o que é que o país tem que fazer para acabar com esta engrenagem de fome, desemprego,desespero e miséria?
Então, srs. maçónicos neo-liberais encartados, falta-vos a coragem?
Ilustres economistas indígenas fardados de catedráticos, na vossa cabeça haverá algum lugar por pequeno que seja onde possam imaginar, onde possam perceber o que se passa neste país, neste país de salários e de pensões miseráveis, neste país que, antes do fim do ano chegará aos dois milhões de desempregados, um quarto dos quais, na melhor das hipóteses, não terão qualquer direito a subsídio de desemprego?
Reles economistas universitários provincianos, vendidos à máquina infernal da troika, figurantes vendidos a interesses mais altos, caixote de lixo com eles.
Ò Krugman, vai vender o teu peixe para outra freguesia. Ainda nos havemos de rir à tua custa, valha-nos isso.