A gente vai ficando velho e tomando ciência, cada vez mais, daquilo que nos incomoda. Pelo menos comigo é assim. Eu particularmente detesto injustiça, ingratidão e grosseria. Faz pouco tempo, acrescentei outro ponto à lista: a arrogância. Talvez tenha sido por isso que, dia desses, não me contive e disse o que precisava ser dito a um arrogante de plantão. Aos fatos:
Tinha acabado de entrar numa canoleria (casa que serve
canolli, doce de origem italiana que consiste num canudinho frito recheado com algum creme doce, bem polvilhado de açúcar) que fica dentro de uma escola de italiano perto da Paulista, um casarão lindo. O dono de estabelecimento (ou o chef, ou o gerente, não sei ao certo, mas acho que era o dono) me cumprimentou na língua de Michelangelo. Como o idioma não falo, educadamente respondi boa noite em português. E pedi um canolli com o recheio clássico, de creme mesmo.
Estava péssimo. A casquinha era velha, nada crocante. O recheio, sem gosto. Do cappuccino que pedi para acompanhar só consegui tomar dois goles. Já não era lá grandes coisas. E ficou ainda pior com o adoçante que eu coloquei, o único disponível na casa, nem lembro a marca, mas era uma bem desconhecida. Enfim, não dei sorte, mas, OK, hora de pagar a conta e seguir em frente, acontece.
“Mais alguma coisa?”
“Não, só isso mesmo”.
“Já conhecia o canolli?”
“Sim”.
“Onde você comeu?”
“Não sei se você vai conhecer, foi no
Malandrino, uma casa de massas pequena, na Vila Mariana”.
“Conheço sim, eu faço os meus doces num local lá perto, na Borges Lagoa. O canolli deles é bom. Mas o meu é muito melhor, não é?”.
“Você vai me perdoar, mas eu não achei não.”
“Não?”
“Não.”
“Mas olhe aqui, veja quantos elogios, todo mundo falando bem do meu canolli”, disse o mala, apontando para vários quadrinhos com críticas de jornalistas e blogueiros famosos, especializados em gastronomia.
A resposta correta seria “coitados, nunca foram ao Malandrino”, mas era hora de ir ao cinema e eu apenas disse: “Pode ficar tranquilo, vocês estão longe e o Malandrino não vai te atrapalhar em nada. Agora, a verdade é que, quando eu fui lá, o canolli estava novinho, saboroso, cheio de açúcar, maravilhoso”.
Disse obrigada, tchau e fui embora. Paciência com gente arrogante eu não tenho mais. Nunca mais. Em defesa ou óbvio, ou seja, do fato de que ninguém precisa se achar melhor do que o resto do mundo para ser bom naquilo que faz. Né, não?
Beijos, beijos, beijos, ótimo finde para nós,
Isabela – A Casada