Eu cresci entre os bancos de uma igreja. Ainda recém-nascida e ao longo dos meus primeiros anos, dormia neles. Depois, passei a correr por eles brincando e levando broncas até o momento em que cheguei na idade de escolher se queria me sentar não só por sentar, mas para realizar o propósito de aprender sobre Deus, sobre a vida, sobre o amor e sobre como ser uma pessoa melhor.
Você sabe, a gente muda. Nem tudo o que me foi oferecido, hoje me convém. Mas sou muito grata por horas e horas somadas, talvez anos da minha vida sentada naqueles bancos. Foi lá que um homem, ainda menino, se submeteu a ouvir as palavras de um pastor que, por vezes ou mesmo frequentemente, se perdiam completamente em sua mente porque o seu propósito era outro: me conquistar. E fez direitinho.
Durante 10 anos estivemos juntos entre casa, viagens, trabalho, casa, trabalho, viagens e... igreja. Ele até se batizou! Que avanço espiritual!! Mas eu confesso: óbvio que eu sabia que sua entrega a Deus ou à religião, o que for, não era completa, mas isso nunca me incomodou. O que eu queria, por mais que eu tivesse aprendido que Deus está em primeiro lugar e em todas as coisas, era estarmos felizes sem imposições e regras de uma instituição.
Mas, depois de uma década de história, descubro que o menino que se tornou homem ao meu lado levava dentro de si um outro homem que pouco prezava as leis divinas. Tudo bem. Eu sei que ele não levava esse papo de igreja seriamente e eu até queria que fosse assim, sem essas caretices! Mas esse outro homem não considerou o meu amor, a minha devoção, a nossa história. E NÃO ESTOU MAIS FALANDO DE DEUS!! Estou falando de caráter, de honestidade.
No meu computador, lá estavam: conversas de MSN com três garotas com um homem que não parecia o meu. Descobri que ele nunca foi meu. E, então, não entendi por que ele fez tanto sacrifício. Ele fingiu durante tanto tempo, aguentou o blábláblá nos bancos da igreja, simulou interesse, subiu num altar comigo, fez os juramentos de amor e fidelidade eternos.
Quem é que acredita nisso? Nesse negócio de amor e fidelidade eternos? Eu acredito em crises, acredito em recomeços, acredito na verdade, independentemente de ela ser realmente dura. Acredito, sim, na eternidade do amor e na fidelidade se houver lealdade, honestidade e vontade de honrar os sentimentos mais puros que já existiram dentro de dois corações.
Quando olhei para todas aquelas frases, declarações, cantadas e histórias antigas de encontros com outras mulheres, eu não tive dúvida: o meu casamento acabou. Quando, sem brigas, na paz e equilíbrio que só algo superior poderia me dar, eu disse: “Eu quero a separação”, o chão se abriu. Depois de uma noite em camas separadas, um terceiro homem se mostrou. Agora, convertido, crente aos caminhos que nunca andara antes, me implorou: “Eu sei o que aconteceu, faltou Deus na minha vida! Me perdoe, fique comigo, serei uma nova pessoa”.
Sabe... Deus realmente garante a transformação. “Tudo se fez novo e as coisas velhas ficaram para trás”, diz a Bíblia. Mas você acha mesmo que eu correria esse risco? Se 10 anos não foram suficientes e, nesse período, eu conheci três homens diferentes - o perfeito, o canalha e o crente arrependido -, você acha mesmo que eu me poria na situação de eterna otimista de que a traição não aconteceria nunca mais outra vez? Mas nem Deus, que me falou desde criança que é preciso ter fé e acreditar nas coisas que não se vêem, me convence a fazer isso. E olhe que Ele é Deus - o todo poderoso.
Tudo isso me fez crescer muito. Até espiritualmente, mesmo não tendo sentado no banco de uma igreja desde que tudo aconteceu, há cerca de três meses. Hoje, com o divórcio assinado, até acredito que meu ex-marido tenha se encontrado com Deus e espero que realmente tenha uma experiência espiritual verdadeira, mas não faço mais parte disso. Agora cuido eu da minha alma que, nas últimas semanas, teve todos os motivos para se perder e sair do eixo. Mas na verdade, às me sinto como se tivesse me encontrado. Contraditório, não?
Eu sei que num futuro, próximo ou não, terei mais clareza para ponderar, analisar e saber de fato das mudanças que me ocorreram e ainda estão ocorrendo, espirituais ou não. Só posso dizer que estou feliz, passei pela crise e estou num recomeço. Se isso faz parte de uma elevação sobrenatural, não sei. Mas de uma coisa eu tenho certeza: nunca faltou Deus na minha vida.
A Divorciada convidada
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