Não curto muito esse lance de emprestar roupa, embora já tenha feito isso em casos de amizade extrema. O mesmo vale quando a mão é invertida e sou eu quem está em apuros. Quando a situação não se encaixa nesta prerrogativa, é saia justa na certa. Aliás, mais ainda quando as suas dimensões territoriais são postas em xeque.
Dias desses, havia uma coleguinha gringa em treinamento lá onde trabalho. A mocinha era, com o perdão da palavra, um "tanquinho". A fofolete vinha de um país completamente tomando pela linha do Equador, o que a fazia perder qualquer referência a respeito de hemisfério norte, sul, translação do planeta Terra e estações do ano. Ou seja: a fofa baixou aqui em São Paulo, juntamente com um grupo de gringas, e virou um picolé hispanohablante neste inverno nada tropical, sem nada na mala para enfrentar o frio.
E o que a solteira tem a ver com isso? Pois que pipoca na minha caixa postal um mail escrito por uma das colegas da musa de Botero querendo saber se poderia emprestar (EU) um casaco para a colega (TANQUINHO), que estava passando muito frio, pois não trouxe nenhum abrigo na mala.
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Peraí, mas a garota é um tanquinho!?!? Porque Diabos o meu casaco vai entrar nela?!?! Dois: para piorar, foi uma conclusão do grupo, já que o e-mail foi escrito por uma delas, e não pela própria. Até onde sei, o espelho lá de casa não é de parque de diversões e não distorce a imagem. Caso contrário, seriam 10 centímetros a menos de altura, redistribuídos nas laterais do shape da solteira.
Com a cabeça fumegando de tantas perguntas, tomei a única atitude cabível naquele momento:
Ignorei a mensagem... ....
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E não adiantou nada. Um pouco antes de ir embora, a fofinha brota do meu lado e com aquele sotaque hola qué tal? "pregunta" se eu tinha visto a mensagem. Disfarçando a fumaça que saía da minha cabeça, pergunto blasé "quê mensagem?"
Ah, ela queria saber se podia emprestar um casaco meu, afinal, as outras eram más flaquitas, magrinhas no idioma de Cervantes... Estava prestes a colocar a moça dentro de um canhão e acender o pavio, mandando-a de volta para a linha do Equador, quando ela vê o meu casaco em cima da bolsa, passa a mão e começa a vestir. A gordinha mais rápida que já vi na vida. Um duende alucinado que poderia transformar a minha auto-estima em pó. Só isso.
Era tudo ou nada. E se o meu casaco de tricô entra naquele corpitcho rotundo e cabe como uma luva? E se não entra, ela insiste e deforma o casaco que ainda estou pagando? Em três segundos, saiu o veredicto: o casaco não fechou e sequer a fofa conseguia baixar os braços.
Ao ver aquela cena, um sorriso de canto de boca brotou no meu rosto. O casaco não tinha cabido, o-ca-sa-co-não-en-trou! Então, nem tudo estava perdido para a Solteira! Pela primeira vez, fiquei feliz com a desgraça alheia. Oh, me apretan los bracios, disse decepcionada.
Só me restou arrematar com agulha de "oro", já tirando dela o casaco que não era para a moça ter vestido jamais nesta, nem na outra vida:
Veja que este casaco, por ser de tricô, rola até uma certa elasticidade. Pois é, até tenho uma jaqueta jeans lá em casa, mas se este casaco aqui não entrou, a jaqueta jeans é que não vai servir MERRRMO....
Pano rápido! Aliás, muitos, muitos panos. Para ela, é claro.
Giovana - A Solteira