Continuam a chegar-me propostas de troca de links. O post que se segue é antigo mas, aparentemente, não foi lido por todos. Aqui fica, de novo. Quem já o leu, não perca tempo.
Manual do bloguer de bola - versão muito resumida
Por vezes, chegam a estas caixas de comentários mensagens do género:
«Gosto muito do vosso blogue e estou a começar o meu, o euseimaisdeboladoqueofreitaslobo.blogspot.com, e gostava que incluíssem o link na vossa barra lateral. Se o fizerem, eu retribuo.»
Não percebo grande coisa da dinâmica da blogosfera nem sei como potenciar a leitura massiva de um blogue. Prova do que digo é que raramente passo dos 400 leitores por dia. Para terem uma ideia do quanto o número é ridículo, a Marta Rebelo, por cada crónica, chega tranquilamente aos 800 mil leitores - e só dois é que gostam dela. No entanto, sei outras coisas que podem ser úteis para o bloguer que inicia funções. Pode não fazer dele a nova Marta Rebelo. Mas apresenta outras vantagens, nomeadamente para mim.
Se não se importam, vou organizar isto numa lista. E pôr números nos tópicos. Eu gosto de números e tópicos, dá um ar técnico à cena. Gosto mesmo disso. Portanto:
1) As boas maneiras.
Este tópico é generalista, já que o tema abrange todo o convívio entre humanos. Imaginando a blogosfera futebolística como uma comunidade, as boas maneiras são sempre bem-vindas. Assim, caro bloguer, ao invés de me propores algo que eu não te pedi e que posso dispensar com a maior das indiferenças, sobretudo depois de ter lido a mesma proposta em 57 outros blogues de futebol que frequento sem que tivesse existido sequer a preocupação com a concordância entre o número a que aponta a tua mensagem e a quantidade de pessoas que escreve neste blogue (lamento, sou só um…), por que não uma demonstração de cortesia da tua parte? Ser cortês fica bem até numa reunião entre o Pinto da Costa e um dirigente da arbitragem, o YouTube não me deixa mentir. Assim, sugiro que deixes de parte esse esforço inglório de palmilhar blogues e blogues, de copy-paste em copy-paste, a ser chato, a ser incómodo e a ser ignorado, e canalizes a tua energia para uma coisa muito mais simples: linka os blogues de que verdadeiramente gostas. É simpático e será uma questão de dias até que os administradores desses blogues se apercebam da tua gentileza. Quando o fizerem, visitar-te-ão e, te garanto, se gostarem do que lerem, serás justamente retribuído.
2) A intervenção pública.
Tens muitas coisas para dizer, pois tens, aliás, foi isso que te levou a fundar um blogue só teu: tens uma opinião muito própria, extremamente própria, e achas que ela importa realmente. És jovem, tens vigor, sabes coisas e a ti ninguém te manipula, não senhor, tu és independente! Pois bem, nada como mostrá-lo ao mundo. Mas calma: o passo não deve ser maior do que a perna. Assim, antes de iniciares a produção daquilo que será a futura enciclopédia do futebol pós-moderno e vanguardista – e para que não a escrevas sem que ninguém dê por isso a não ser que espalhes o teu comentário-melga por cada pardieiro que se aparente vagamente com um blogue –, que tal comentares os blogues que lês e – vá lá, confessa – te serviram pelo menos de molde, nem que seja pela negação das aberrações que são quando comparados com o teu modelo brilhante, que frequentas diariamente? Aí, podes, sem compromisso, experimentar o debate, a argumentação, a própria escrita, em casos extraordinários, a leitura e compreensão do que os outros dizem. Bem sei que parece disparatado mas, eventualmente, darão pela tua presença. Nesse momento, clicarão no teu nick que os há-de encaminhar para o teu blogue. Então, estaremos perante a situação descrita no ponto 1 (opá, o que eu gosto disto dos pontos! Fica tão mais simples. O Sporting não sabe o que perde, de facto… ter pontos é tão bom).
3) A atitude.
Agora que já foste cortês e interventivo e, com isso, captaste a atenção de alguns distintos bloguéres (que palavra chic) do futebol nacional, convém que estejas preparado: tens de ter textos à mostra para que possamos deleitar-nos com a leitura do teu génio. Porém, isto não é só literatura. Nada disso, as coisas não podem ser assim tão simples, não é? Pois claro que não. Um bom blogue sustenta-se na atitude do seu autor (quando são vários autores, as diversas atitudes criam uma dinâmica própria que tornará o blogue, em si, distinto de todos os outros; no entanto, e pelo que conheço, os blogues comunitários, digamos assim, têm sempre uma espécie de “líder tribal” que concentra em si a atitude que os leitores esperam quando, pela manhã, abrem o blogue em busca de novidades. Mais que não seja, porque esse redactor compulsivo escreve, por norma, 92% dos posts expostos – e não estou aqui a apontar o meu dedo a ninguém, escusam de se insurgir). Não existe uma atitude que possa ser eleita como “a” atitude. Mas temos para ti vários modelos à escolha. Vou apresentar-te os três com maior implante implantação neste nosso pequeno mundinho.
3.1) [Opá, que maravilha… 3.1… classe! Classe!] Sintetizador do óbvio.
Se não quiseres ter muito trabalho mas, em contrapartida, pretenderes garantir vasta audiência, faz o seguinte: finge que os teus leitores não vêem os jogos, não lêem jornais e não gostam de pensar. Posto isto, supõe que TU és o guru que os vai iluminar, mostrando-lhes o que acontece em frases claras e simples como «o Benfica ontem sentiu dificuldades, mas conseguiu levar a água ao seu moinho». Depois dissertas um pouco sobre o assunto. Se puderes, especula – do género «e se Aimar tivesse jogado de início?» -, mas sempre sem exagerar. Lembra-te: estás a fingir que nós não pensamos e nós estamos a fingir o mesmo. Portanto, não nos dês muito trabalho: diz-nos aquilo que sabemos que vamos ler.
3.2) Provocador.
Esta postura também dá milhões de clientes. És do Benfica? Faz posts a gozar com o Porto. És do Porto? Faz posts a dizer mal do Benfica. És do Sporting? Xinga os do Braga até não poderes mais. Não falha. Os teus rivais vão andar em cima de ti como o fora-de-jogo em cima do Postiga: não te dão um milímetro. Serás insultado, vandalizado, apupado, moralmente violado, tudo isso. Mas serás, sobretudo, visitado. E não é isso o que se pretende?
3.3) Literato.
Não é para todos, mas quero que saibas que acredito piamente nos teus talentos e, por isso, esta é a modalidade em que te vejo, sem margem para dúvidas. Dominas a escrita como o Pepe controla a raiva, o teu discurso está ao nível do de Jorge Jesus – calma, só ao nível da criatividade –, leste mais romances clássicos do que exemplares d’ A Bola no tempo do Olímpio Bento? És o homem certo para o lugar vago. Ter um blogue é um exercício de pavão, é bom que tenhas consciência disso. E, se tu não gostares de ti, Narciso, quem gostará? Exibe-te, espalha o teu glamour.
Agora, vai, dá o teu melhor. Mostra ao mundo o quanto és bonito. Eu estarei cá para te ler. E, se gostar, partilho o link na minha barra lateral. Palavra de honra.