(Nuno Gomes)
Estou bem-disposto. As recentes polémicas e conflitos mais ou menos internos do Benfica são facilmente sanados: focamo-nos na selecção nacional e não pensamos mais no assunto. Folheio A Bola, muito gosto eu de folhear A Bola, e descubro a faceta grunge de Nuno Gomes, apreciando a depressão, regozijando-se com a desilusão. Os anos 90 estão-nos mesmo incrustados na carne e no sentimento. De Vítor Paneira a Kurt Cobain, não esquecendo nunca o Patrick Swayze, todos nós, de entre 1975 a 1985, conhecemos bem o inigualável charme da melancolia. Fico feliz por saber que o Nuno Gomes está contente por estar triste – embora eu próprio fique triste por ele, o que também me reconforta, de alguma forma, o que, no fundo, acaba por me animar.
Quinta-feira, o melhor dia da semana para se ler A Bola. É dia de Leonor Pinhão. Um amigo meu, certo dia – certa noite… –, no Cais do Sodré, vendo a Leonor Pinhão nos arredores do MusicBox, não se conteve: Benfiquista fervoroso e apreciador de boa prosa, chamou, gritando, «Dona Leonoooor! Dona Leonooooor!». Desde então, entre amigos, referimo-nos a Leonor Pinhão como “Dona Leonor”, num misto de trato bem-dispostamente carinhoso e alguma reverência. Reverência merecida, justificadíssima. Admiração!
À quinta-feira, folheio A Bola, sim, mas só depois de ir directamente ao que me interessa: a crónica da Dona Leonor. As gerações não são as mesmas e Leonor Pinhão não é uma genuína possuidora do charme da melancolia. Ainda assim, não é por isso que deixa de encontrar conforto nas tristezas. Acontece que é nas tristezas dos outros. E, nesse particular, Dona Leonor tem um charme incomparável. Escreve assim sobre a final de domingo:
«Sofrer um golo de cabeça de um adversário com 1 metro e 66 e que ainda se pôs de joelhos para enfeitar melhor o lance não é coisa digna de um craque das redes como é Rui Patrício.»
(Leonor Pinhão)
E eu, uma vez mais, fiz da tristeza alegria. A tristeza também não era minha - detalhes. E lá vou eu folhear a A Bola. Falam do Ola John. Deve ser o jogador desconhecido mais famoso do momento. Já li e ouvi o nome do homem tantas vezes que começou a soar-me familiar. Agora, espero que venha. Só para ficar a saber se também joga à bola, para além de ser famoso. Quem fala bem é Bruno César. Dantes falava mal. Agora está falando bonito:
«Aquela Liga dos Campeões é uma prova chic, com aquele hino e tudo…»
(Bruno César)
Não é um encanto? Bruno César não tem costela grunge – tudo aqui é composto de singelo e certeiro optimismo: ele encontra alegria na alegria. Tão simples quanto isso. Dizer da Champions que é chic é a demonstração de que a afirmação despudorada do óbvio pode ser, também ela, de um charme imenso. Finalmente, qualquer coisa que bate certo.
Leio mais. Passo á frente o que não interessa, há assuntos que me aborrecem. O futebol, desporto que se quer de charme e de emoções fortes, às vezes causa-me desconforto. E é então que resolvo a situação: foco-me no basquetebol. E, com este exercício aparentemente simples, descubro a felicidade onde dantes existia tristeza. É bonito voltar a ser campeão nacional de basquetebol. E haverá quem diga «só te preocupas com isso porque perdeste no futebol». E eu responderei «isso é mentira» e nem me darei ao trabalho de justificar. Aliás, esta vitória parece ter mais importância do que o próprio troféu, em si – que ninguém viu mas que se supõe que exista mesmo. Diz-se, pelos corredores e bastidores, pelos balneários e cantos escuros, em sussurros, que se inaugurou um novo salão de festas a Norte. Pode ser pequeno e humilde, mas creio que há-de dar jeito. Isto, se se confirmar a informação. Porque a verdade é que não vi lá festa alguma, portanto é capaz de ser exagero. Ou então há aqui uma inversão da lógica da charmosa melancolia: as gentes de lá só encontraram tristeza na alegria. Na nossa alegria.