sábado, 30 de abril de 2016

microleituras

Uma lógica semelhante aqui, com texto do mesmo Tronhdheim, e idênticos resultados.







Vinheta 1:



ficha:
Autor: Lewis Trondheim 
título: Imbróglio
tradução: Pedro Cleto
colecção: «Quadradinho» #5
editor: Associação Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto
local: Porto
ano: 1997
impressão: Litogaia
págs.: 24

quarta-feira, 27 de abril de 2016

microleituras

Sobre a Censura e a auto-censura. O artiguinho saltou-me há vinte anos, impressionado com a leitura das «Mensagens» de Ferreira de Castro na sessão do MUD (1946) e na campanha de Norton de Matos (1949):  O medo das pessoas falarem livremente umas com as outras, não fossem ser presas, despedidas, interrogadas, torturadas. O país do medo. E, no tempo de Salazar, Ferreira de Castro escrevia isto para ser lido em público:

«[...] Os Portugueses, na sua maioria, vivem numa permanente desconfiança [...] Eles vêem em todo o compatriota que não conhecem um possível inimigo -- um homem que lhes pode fazer mal. Eles desconfiam de tudo, até dos mendigos, algumas vezes até dos parentes. até da sua própria sombra. Mesmo os homens mais pacíficos, pais de família cuja principal preocupação poderem alimentar os filhos, vivem neste ambiente de suspeição, que produz, tantas vezes, imerecidos juízos sobre pessoas que, afinal, são outras tantas vítimas do medo.»
(«Mensagem de Ferreira de Castro», Campanha Eleitoral da Oposição. Depoimento. 3.ª série, Lisboa, 1949)

O mesmo ano, contra a mediocridade instaurada pelo medo, com os surrealistas a erguerem-se. E, por falar em surrealistas, cruzo na temática do medo, poemas de Alexandre O'Neill, Natália Correia, mas também de Manuel da Fonseca e Manuel Alegre. E foi o que me veio à memória, quando pensava no que escrever sobre esta separata. Lembrei-me do parazer em pegar nos textos, aqui e ali, misturá-los, cozinhá-los. Sempre gostei de fazê-lo. E não apenas com a literatura, mas também com a pintura, a música...

incipit - «Uma ideia que tem feito carreira com sucesso é a da inexistência de grande obras reveladas após o 25 de Abril, dessas que aguardaram publicação durante anos nas gavteas dos seus autores.»

Ficha
Autor: Ricardo António Alves
título: Ferreira de Castro: Um Escritor no País do Medo
separata: Taíra - Revue du Centre de Recherche et d'Etudes Lusophones et Intertropicales #9
edição: Université Stendhal
local: Grenoble
ano: 1997
págs. 10

segunda-feira, 25 de abril de 2016

filósofos e mulheres -- ou grande estilo de apresentar um tratado

«Admitindo que a verdade seja mulher, não será justificado que todos os filósofos, conquanto dogmáticos, pouco percebiam de mulheres? Que o sério trágico, a inoportuna falta de tacto que até agora têm empregado para atingir a verdade, eram meios demasiado desastrados e inconvenientes para conquistar o coração de uma mulher? Certo é que ela não se deixou conquistar; e toda a espécie de dogmática toma hoje uma atitude triste e desencorajada, se é que ainda toma alguma atitude.» 
Friedrich Nietzsche, do «Prefácio» de  Para Além do Bem e do Mal (1866)

domingo, 24 de abril de 2016

o início de A CIDADE DAS FLORES, de Augusto Abelaira (1959)

«Sentado, as pernas cruzadas, uma das mãos no bolso e a outra a brincar com o lápis, Giovanni Fazio observava os passos, para diante e para trás, dum casal de ingleses.»


terça-feira, 19 de abril de 2016

microleituras

Quem quiser conhecer a forma e o fundo da chamada literatura de cordel tem à mão este livrinho do velho Camilo, objecto de muitas edições ao longo dos tempos desde a edição princeps, sem nome do autor, publicada em 1848 (data que a presente edição nem se dá ao trabalho de informar).
A literatura de cordel, com as suas historietas mirabolantes, os seus relatos de crimes horrendos, fazia as vezes dos jornais tablóides e das estações de televisão, cuja luta entre si, à procura de sangue para a turba das audiências, é pelo menos tão miseranda quanto os crimes nefandos escarrapachados nestes folhetos, vendidos por esse país adentro, nas feiras, nos mercados, nos lugares de ajuntamento, a um público analfabeto que ouvia a leitura em grupo.
A história verídica que nos conta Camilo -- o matricídio de Matilde do Rosário da Luz pela sua filha Maria José -- é um (in)vulgar crime venal que a miséria humana conhece desde que se conhece. O que é giro neste folheto é a técnica espertalhona de Camilo de captar e impressionar o ouvinte do anúncio do conteúdo, no exórdio dirigido AOS PAIS DE FAMÍLIA!, de forma a ficarem logo agarrados ao triste caso, sinal claro de «que o fim do mundo está chegado» -- e abrirem os cordões à bolsa, é claro, que era o que interessava ao futuro autor do Amor de Perdição

o inicio: «Em Lisboa, na travessa das Freiras n.º 17 havia um homem chamado Agostinho José casado com Matilde de Rosário da Luz.»

ficha: 
Autor: Camilo Casrelo Branco
título: Maria! Não Me Mates que Sou Tua Mãe!
editora: Edições Nova Ática
local: Lisboa
ano: 2001
impressão: Stória
págs.; 16

quinta-feira, 14 de abril de 2016

livros que me apetecem

A Crisálida, de Rui Nunes (Relógio d'Água)
Letra Aberta, de Herberto Helder (Porto Editora)
Minha Formação, de Joaquim Nabuco (ABL e Glaciar)
Não de Pode Morar nos Olhos de um Gato, de Ana Margarida de Carvalho (Teorema)
Vil -- A Tragédia de Diogo Alves, de André Oliveira e Xico Santos (Kingpin Books)
Volta, de André Oliveira e André Caetano (Polvo)








segunda-feira, 11 de abril de 2016

microleituras

Uma estesia alumiada pelo imaginário transtagano, claridades e planuras do sul que pediam mais rarefacção duma certa mitologia e lugares-comuns correspondentes.

1 poema









NEM SÓ O SUL

Nem só o sul O'Neill nem só o sol
por debaixo da sombra há outras sombras
no interior da casa talvez na cama
sob os lençóis
no desejo reprimido na violência contida
no ancestral orgulho masculino
no grito abafado das mulheres
há outras noites outras sombras outras portas fechadas
outros domínios proibidos
outras coutadas.

ficha:
Autor: Manuel Alegre
título: Alentejo e Ninguém
editora: Caminho
edição: 3.ª
local: Lisboa
ano: 1998
impressão: Tipografia Lousanense
capa: José Serrão
págs.: 43
tiragem: 2000

sexta-feira, 8 de abril de 2016

microleituras

Esplêndida bd de Rui Lacas, destreza narrativa, filactera a filactera, argumento simples, eficaz, ternurento e surpreendente. Um boneco com potencialidade de herói: o Padre Fortunato. Não há mais estórias com ele?









primeira vinheta:



ficha:
Autor: Rui lacas
título: A Ermida
prólogo: Catarina da Ponte
editora: Polvo
local: Lisboa
amo: 2011
impressão: Europress, Lisboa
págs.: 58 


terça-feira, 5 de abril de 2016

microleituras

O Pe. Martins Capela (1842-1925) foi uma daquelas figuras fascinantes da segunda metade de oitocentos, simultaneamente erudito e abade de aldeia, pedagogo e universitátio, homem de gabinete e místico. Embora a memória eclesial se mantenha na remota aldeia natal de Carvalheira, nas faldas do Gerês, o seu contributo para a cultura portuguesa -- que soube enriquecer com prosa de estilista, da teologia à literatura de viagens, passando pela crónica de imprensa -- reside no trabalho aturado de historiador, arqueólogo e epigrafista, cujo opus magnum é Miliários do Conventus Bracaraugustanos em Portugal (Porto, 1895), obra ainda hoje de referência no que respeita à Epigrafia Latina e ao estudo da civilização romana no nosso território. Desde criança habituado a ver a estrada da Geira, que lhe passava à porta de casa, ao levantamento das inscrições -- hoje emblemas da vila de Terras de Bouro --, dedicou o melhor do seu saber. A tradução desse livro para alemão pelo eminente Emil Hübner, é reveladora dessa valia.
Este livrinho de Ademat Ferreira dos Santos, edição singela e meritória da escola de que é patrono, é uma excelente cronologia sintética, seguida de apêndice com evocações coevas.

incipit: «1842 / Foi no dia consagrado aos Santos Apóstolos Simão e Judas (28 de Outubro) do ano da graça de 1842, que nasceu no lugar do Assento (1) da freguesia de Carvalheira (concelho de Terras de Bouro) uma criança do sexo masculino a quem puseram o nome completo de Manuel José Martins Capella -- Martins Capella, que eram os apelidos do pai (António Joaquim); Manuel José, que eram os nomes próprios do irmão predilecto da mãe (2) (Maria Custódia Rodrigues Salgado e Carneiro).

ficha:
Autor: Ademar Ferreira dos Santos
título: Martins Capela -- Notas Biobibliogtáficas
edição: Escola CS´Maerins Capela
local: Terras de Bouro
ano: 1992
impressão: Barbosa & Xavier, Braga
págs.; 30