Quem explica é o empresário e agente Paulo Teixeira.
Convenhamos desde já em uma coisa. No Benfica, Luis Filipe Vieira é o 4 em 1: presidente, diretor desportivo, uomo-mercato e assessor de imprensa. Isso ficou patente na abortada operação Mitroglou para a China. Explico.
Na janela do mercado de janeiro, os chineses do Quanjin Tianjin solicitaram-me um avançado-centro. Indiquei dois: Jimenez e Mitroglou. O mexicano foi rapidamente descartado, sobrou o grego. O valor pedido por LFV foi de 35 milhões, sempre e quando a operação se fizesse antes do fecho da janela, já que o Benfica teria que encontrar um substituto. Fábio Cannavaro, treinador italiano do clube chinês, optou pelo Pato (Valência) e a coisa morreu, já que a quota de estrangeiros no clube – 4 - ficou preenchida.
A vaga reabriu quando o brasileiro Luis Fabiano resolveu bater com a porta, final de fevereiro, e assinar pelo Vasco da Gama. Falei com Vieira, que me disse: ‘Agora, só pela claúsula – 45 milhões. Não posso baixar um tostão, senão sou despedido’.
Isso foi a explicação que o ‘4 em 1’ deu ao representante do clube chinês, o agente Huang Haizhe, no aeroporto de Tires, com Vieira a embarcar para Manchester em jet privado – com o agente Jorge Mendes – para tratar das transferências de Ederson e Lindeholf.
O chinês – que tinha oferecido 40 milhões – não se desmanchou e deixou a todos boquiabertos: ‘Dou-lhe os 45 milhões e você dá-me 10% de comissão’.
Recebeu uma negativa.
‘5% então’, retorquiu.
Outra negativa.
O chinês pirou: ‘Como, trago-lhe 45 milhões e você dá zero comissão???’
Estava instalada a desconfiança.
O discurso de LFV fazia sentido: ‘O Benfica não tem como encontrar neste momento um subsituto, de modo que somente pode sair pela claúsula, aí eu não posso dizer nada. Pagam e levam.’
Depois de muita resenha telefónica, Vieira começou a aceitar pagar uma comissão - à condição que o chinês colocasse preto no branco que pagaria os 45 milhões. O chinês, por seu lado, exigia do Benfica a contra-partida – preto no branco – de que lhe garantiria 5%, ou seja, 2.250.000 euros. Vieria disse que daria instruções ao dr. Paulo Gonçalves, advogado do clube, para tratar disso, coisa que jamais ocorreu.
O caldo entornou definitivamente quando o presidente do Quanjin copiou ao seu mandatado as mensagens codificadas de Mendes, tipo ‘45/8’, isto é, 45 milhões pela transferência e 8 milhões livres para o jogador – e pedia uma comissão de 5%. O que me levou a ser duro com LFV: ‘Porra, presidente, o que tem a ver o Mendes com esta história?’. Resposta singela: ‘Vivemos num mundo livre, cada um faz o que quer. Mendes é um parceiro privilegiado e esteve comigo lá na China.’
A versão mídia passou por um episódio que coloca em causa a sua independência e autonomia. No decorrer do processo, LFV liga para me dizer: ‘Você vai ler uma notícia n’A Bola na qual o Mitroglou diz que não quer ir para a China. Não se preocupe, eu é que mandei pôr’.
Do agente do jogador, o grego Panos Galariotis, hospedado no hotel Corinthia, pouco se ouviu falar. Vieira exigiu que a proposta económica lhe fosse enviada a ele - 18 milhões livres por 3 anos de contrato – que ele ‘trataria do assunto’. Assim foi feito, mas ficaram dúvidas se alguma vez esta foi transmitida a Mitroglou e seu agente. Afinal quem é o jogador que, neste mundo mercatilista de hoje, recusa a sua independência financeira?
O presidente do Benfica – sabe-se lá por que motivo – tentou de todas as formas desvalorizar o representante chinês, tratando-o quase como um deliquente - ‘é um artista’, ‘esse mandato não vale nada’ - e meter Jorge Mendes na jogada. Encontrou pela frente um clube e um presidente que não aceitaram manobras escusas. O SLB deixou de vender Mitroglou por 40/45 milhões e acabou por entregá-lo, seis meses depois, ao Olympique de Marselha por 1/3 do preço.
Alguém que durma com um barulho desses.