terça-feira, 24 de janeiro de 2012
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
O melhor vendedor da Bahia
Cruz caída, centro histórico de Salvador. 16:30 da tarde; o
sol iluminava agradavelmente meu rosto e tudo corria bem. Os turistas andavam
de um lado para o outro vendo a Salvador que todos gostam de ver, eu os olhava
com uma cara de: “Nossa, minha cidade é a melhor do mundo!”.
De repente, surge um tumulto, um carioca fala com um
vendedor ambulante de forma agressiva,
com palavras de baixo calão (as quais eu me recuso a reproduzir) acerca de um
golpe (ou ‘chá-de-burro’ como disse o mesmo) no dia anterior que lhe custou 50
‘conto’. Um tempo depois a polícia chegou e levou o indivíduo, aquela
aglomeração logo se dispersou.
Eu me virei e ouvi alguém falando “Fudeu”.Eu o olhava com uma cara de
dúvida e ele me respondeu: “Rapaz, agora fudeu, roubar turista dá merda, teve
um cara aqui que tá preso, hoje vai pra a detenção porque roubou turista,
rapaz, turista é renda, pode roubar eles não! ”
E eu não sabia o porque, mas estava gostando daquela
conversa com aquele desconhecido.
E num dado momento ele me diz: “Rapaz, eu sou o melhor
vendedor dessa Bahia! Você vai ver agora!”
E eu sentado na escadaria o vi se afastar, ir até uma
família de turistas que estava tirando umas fotos e com um jeito que eu não sei
descrever muito bem, sorridente e afetuoso, conseguiu vender uns colares para
aquela família em menos de 10 minutos, e voltou com um sorriso no rosto: “Tá
vendo?! Eu sou o melhor vendedor dessa Bahia rapaz! Vou conquistando o turista,
não é todo mundo que faz isso não!”
E eu o aplaudi, não sabia se pela forma como ele vendeu, ou por aquela feição
sorridente, humilde e sincera daquele cidadão que ganhava a vida vendendo
colares.
E, num momento ele me diz: “Rapaz, eu sou o melhor vendedor
dessa Bahia, posso ser usuário, a porra que for, mas sou honesto, não fico
querendo tirar vatagem de turista não!”
E eu me espantei e fiz a pergunta desnecessária:
-Você é usuário?
-Sim, uso Crack.
-Por que rapaz? Sai dessa vida cara!
-Poxa velho, eu tento, mas não consigo!
-Cara, vc tem força, tem potencial, eu desafio muitos
vendedores da Bahia a vender como você vende rapaz! Vc tem muito potencial,
levanta e luta, sai dessa!
-Tá, vou tentar cara!
Eu pergunto à Baiana:
-Qual o nome daquele cara Baiana?
-Não sei, meu filho.
Então eu corri atrás
daquele cara e o encontrei. O nome dele não vem ao caso, digamos que pode ser
um ambulante qualquer das ruas do Centro Histórico. E nós continuamos
conversando sobre ele, sobre a vida dele que eu fui descobrindo, tal qual um
livro aberto, aquele cidadão foi tomando meu tempo e eu fui vendo que ele não
era um cara qualquer no pelourinho, ele era diferente!
Depois dali, fomos comprar uns colares para ele vender;
conversamos mais um pouco, ele pegou os colares, me deu outro abraço, derramou
umas lágrimas no meu ombro, eu lhe disse umas poucas palavras de apoio de novo,
ele novamente agradeceu e o vi dar as costas e ir embora pela igreja de São
Francisco. Talvez nos vejamos de novo, talvez ele saia do Crack, talvez eu
nunca mais veja aquele homem, mas eu nunca vou esquecer que, mesmo com uma
capacidade incalculável, mas aprisionado pelo crack com algemas psicológicas,
naquele tarde de sol, dentre tantos outros, eu conheci o melhor vendedor da
Bahia.