Modus vivendi

"bene senescere sine timore nec spe"

blogue de Ana Roque

23 de Dezembro de 2024

Frederick William Burton



21 de Dezembro de 2024

Solstício de inverno

Solstício de inverno é um fenómeno astronómico que acontece todos os anos no dia 21 ou 22 de dezembro. Este ano, ocorrerá no dia 21 de dezembro de 2024, sábado, às 09h21.

Nessa data, o inverno começa em Portugal e em todo o hemisfério norte, e o verão começa no hemisfério sul.

É o dia mais curto do ano e, consequentemente, que tem a noite mais longa.

A partir desta data, a duração do dia começa a crescer. Por isso, na antiguidade, o solstício de inverno simbolizava a vitória da luz sobre a escuridão.

O solstício de inverno ocorre quando o Sol atinge a maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do Equador, ou seja, quando o Sol se encontra mais a sul. Por isso, o hemisfério em que acontece o solstício de inverno recebe menor incidência de raios solares.

solstícios

Os solstícios ocorrem duas vezes ao ano (no inverno e no verão), mas em datas móveis.

O solstício de inverno ocorre todos os anos nos dias 21 ou 22 de dezembro, enquanto o solstício de verão ocorre nos dias 20 ou 21 de junho, no hemisfério norte. A palavra solstício significa "sol parado". Vem do latim solstitius, e é a junção de sol e sistere, que significa "ficar parado".


20 de Dezembro de 2024

Uma Coisa em Forma de Assim

O segredo da abelha é esse. Quem não tiver uma curiosidade encarniçada por tudo o que o rodeia, quem alguma vez supuser que dá mais do que recebe, está perdido para o tal desaprender que repõe em causa ideias e formas. É que, depois de se saber tudo, estará sempre tudo por saber.
O criador deve ter a consciência de que, por melhor que crie, não consegue mais do que aproximações a uma perfeição que lhe é inatingível. Ele é um derrotado à partida. Sabê-lo e, apesar de tudo, prosseguir, é o seu único e legítimo motivo de orgulho.
O resto é bilros.

Alexandre O'Neill


19 de Dezembro de 2024

Piero della Francesca



19 de Dezembro de 2024

Dia de Descanso

Hoje reservo o dia inteiro para chorar
É o domingo decadente em que muitos
esperam pela morte de pé
É o dia do sarro que vem à boca da mediocridade
circular dos gestos que andam disfarçados de gestos
dos amores que deram em estribilhos
das correrias pederásticas para o futebol em calções
mais o melhor fato e a mesquinhez nacional dos 10%
de desconto em todo o vestuário

E choro choro porque a coragem
não me falta para tudo isto e assisto
na nega de me ceder ao braço dado

Precisarei de um cansaço mas
lá estavam espertas
as mil e não sei quantas lojas abertas
para mo vender!

Mas hoje é domingo
Lá está o chão reluzente de martírio
e nem já o sonho me dá de graça o ter por não ter
já nem o amor que suponho me dá o sonho de ser

E choro de coragem isto é
as lágrimas hão-de cair secas nas minhas mãos
Falo cristalinamente sozinho
procurando entre as paredes e as varandas que vão cair
algum acaso isto é
o eco, de qualquer drama vazio

Espero como quem espera
o momento de posse entre dois ponteiros
de torneira em torneira nas súplicas febris
em que me trago aquecendo as mãos nas orelhas
para as não cortar em gritos
Espero e entretanto o mundo não se cansa
de me dar drogas para dormir e criar
novelos de lã à volta do coração
Não me lastimo grito
Quero que estas correntes da boca se tornem úteis
e não ficar pr’aqui moldado estátua
em verdete de ser chorado
A tropeçar onde não há perigo
com calçado duro a pisar as nuvens
neste tão estreitado mundo

Choro hoje o dia todo e lembro-me o que disso
podem pensar os homens das ideias revolucionárias
e choro
choro de coragem e para os microfones da revolução
As lágrimas e a revolução são como a morte de cada um

Cá do meu alto não se desce por escadas mas por desalento
por amor ao chão de terra que me pisam

e choro neste dia burguês fazendo cá a minha revolução
alheia às tais guerras de papel químico

Espero sem esperança mas certo
do que espero como de saber que um homem
não chora e choro

Choro hoje porque reservei o dia inteiro para chorar
porque é domingo e o que espero não é a morte de pé
talvez a coragem de que o mundo não esteja certo

Uma vez era ainda pequeno
chorei ao ver um prédio desabitado
Moro nele mesmo aos domingos e rio-me
das revoluções que ameaçam de pôr ou tirar-me as janelas
Sei que nada adianta
Vi o prédio desabitado era eu muito pequeno
Nele me reservo hoje o dia todo à liberdade de me dar
ao choro da coragem de esperar

E espero porque mesmo que o mundo fique desabitado
um grito afinal terá assim o seu eco

Enquanto durar este domingo vou chorar gradualmente
até que a noite me venha
cobrir o corpo de abafo quente

Então sairei à procura da prostituta cega
para lhe contar junto ao peito
como as pessoas se comportam aos domingos

Fernando Lemos


18 de Dezembro de 2024

Da arte

A arte não existe para impedir o mundo de passar, mas para transfigurar o mundo que passa, para dar ao mundo que passa a face da nossa esperança que não passa.

Eduardo Lourenço


16 de Dezembro de 2024

Umberto Boccioni



15 de Dezembro de 2024

Deambulações Oblíquas

Olho pela janela para me desviar de um pensamento
mas não vejo bem o que vejo
porque sei que vou voltar a outro pensamento
de que igualmente procurarei desviar-me
Se não posso ver bem o que está para além da janela
poderei em contrapartida escrever as palavras simples
que me confortem e dêem a segurança
para viver mais um dia em lenta identidade
E vão perguntar Por que será que os meus passos
são um movimento de cinza? Será que a cinza
poderá ter o ritmo do fogo?
O corpo quer viver porque o desejo sob a cinza é uma chama verde
e tudo deveria concorrer para que ela se elevasse
com a irrefutável afirmação do ser
Mas existir é ir longe de mais
e cair no fosso que fica aquém do crânio
O desejo levanta-se e procura enlaçar as ancas flutuantes
de uma mulher nua numa ilha selvagem
onde toda a violência se transformou no murmúrio ou no sorriso
do encontro verdadeiramente original

António Ramos Rosa


14 de Dezembro de 2024

Jacqueline Osborn



14 de Dezembro de 2024

Todas as palavras

Todas as palavras se iluminam
ao lume certo do corpo que se despe,
todas as palavras ficam nuas
na tua sombra ardente.

António Ramos Rosa


13 de Dezembro de 2024

O poema é um palácio de areia

Nada requer uma lâmpada. Luz vazia.
Alguns cães atrás de muros derruídos.
Águas contra dunas vagabundas. Águas desertas.
O monótono marulho na margem do silêncio.
E o vento de pedra com silabas de sal.
Uma terra respira junto às águas,
late na cal viva, nas cigarras.
O poema é um palácio de areia
à beira do vazio.

António Ramos Rosa


11 de Dezembro de 2024

Museu Nacional Machado de Castro



8 de Dezembro de 2024

Lavínia Fontana



8 de Dezembro de 2024

Um dia

Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.
Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.
Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

Sophia de Mello Breyner Andresen